27 abril 2011

CARTA AOS SENHORES DA TROIKA

Caros senhores da troika, clique no link

Começo por me apresentar, sou um daqueles que estão sempre na linha da frente quando se enfrenta a austeridade, já me cortaram no vencimento, em tudo o que era direitos e regalias, no vencimento, tudo isso apesar de não ter gasto acima das possibilidades, de nunca ter recebido subsídios, de nunca ter exercido quaisquer cargos com remunerações vantajosas e de sempre ter cumprido com as minhas obrigações fiscais

Eu sei que têm recebido algumas cartas, pelo menos devem ter recebido as do Eduardo Catroga pois eu também a recebi através da comunicação social, muito provavelmente até as terei recebido antes dos senhores pois em Portugal o correio funciona assim, é como as peças dos processos de investigação criminal, chegam primeiro à Felícia Cabrita do que ao juiz. Mas duvido que essas cartas lhes tenham contado algumas coisas sobre este país, não vão os senhores lembrarem-se de lhes cortar a direito e não apenas aos do costume.
Não lhes devem ter dito, por exemplo, que neste país anda muita gente a fugir aos impostos graças aos truques legais que inventaram para serem os próprios a beneficiar. Dou-lhes um exemplo, imaginem que há um conhecido advogado da praça cujo grande escritório é património da sua fundação, desta forma quando os advogados pagam a renda não o fazem como seria de supor, em vez disso dão um donativo à fundação que depois é declarado para efeitos de irs
Imaginem os senhores, e espero que estejam sentados, andam por aí uns senhores com estatuto de economistas, provavelmente já terão ouvido os seus conselhos, que são pensionistas desde "tenra" idade e acumulam as pensões com vencimentos do Estado. Podem não acreditar, mas um dos mais ferrenhos defensores das vossas exigências recebe uma pensão de oito mil euros desde os quarenta e nove anos por ter trabalhado apenas seis anos. Não acreditam? Compreendo, parece impossível, mas a verdade é que se esse senhor viver até aos oitenta o país dar-lhe-á uma pensão durante trinta e um anos por conta de seis de descontos! Dantes, quem ia para a guerra recebia um pequeno bónus na idade de reforma, este viveu meia dúzia de anos num gabinete de luxo e vive o resto da vida à custa da riqueza do país e ainda se acha com autoridade moral para andar por aí a dar conselhos ao país.
 Mas se acham que este país não é ilógico e, pior do que isso, mistura a falta de lógica com o oportunismo desabrido, perguntem a um tal Catroga que representa o PSD nas negociações mas mais parece o tutor do presidente do PSD designado pelo Presidente da República o que é isso de ter sido "contratado, por conveniência de serviço, em regime de contrato administrativo de provimento, para o exercício das funções de Professor Catedrático Convidado, a tempo parcial 0%”. Não acreditam que um senhor reformado da SAPEC é contratado a tempo 0%? Então sentem-se, fiquem a saber que foi contratado por um conselheiro económico do PSD com despacho de 26 de Maio de 2010 que produz efeitos a partir de ... 1 de Setembro de 2008. Acreditem, este país é mesmo de doidos, doidos mas não parvos. Já agora perguntem a esse senhor como se processou a privatização do BPA quando ele era ministro das Finanças, vão ficar a conhecer melhor este país e a perceber porque anda tanta gente a exigir privatizações, é o ver se te avias...
E o que se passa nas autarquias, meus caros senhores? Arranjam sociedades municipais para os autarcas aumentarem os rendimentos, alguns até conseguem acumular a responsabilidade como autarcas de grandes cidades coma gestão de grandes empresas municipais, como é o caso do autarca do Porto que também administra o Metro do Porto, e ainda aparece como a grande reserva moral da nação. E a propósito deste tenham cuidado com o que vos dizem sobre obras como o TGV, são contra quando estão em Lisboa e a favor quando regressam à terra. Vão ver como algumas autarquias gastam dinheiro e depois contem-me!
Estranharam tantas viaturas de luxo a circular pela capital? Não há razões para isso, com as assimetrias na distribuição de rendimento a pouca riqueza deste país dá para enriquecer alguns à grande e à francesa, criou-se em Portugal uma elite de proxenetas, gente que de manhã são advogados, à tarde políticos e à noite jornalistas. Servem-se do estatuto de advogados para encobrirem as suas acções de corrupção ou de gestão de influências, são políticos para criarem novas oportunidades de negócios para si próprios e armam-se em jornalistas para convencerem o povo a votarem naqueles que lhes asseguram novos negócios, tornando o poder refém dos seus interesses.
Pois é meus senhores, os grandes agregados económicos enganam muito, dizem que há uma alta carga fiscal mas alguns não pagam impostos, que a produtividade é baixa mas os que mais enriquecem são os que menos trabalham, que o país viveu acoima das suas possibilidades mas foi a elite de proxenetas que mais carros e outros bens de luxo importou, que a idade de reforma deve aumentar mas muitos deles são pensionistas do parlamento, do BdP e de outros esquemas montados para saquear o país. A grande mentira deste pobre país não está nas contas públicas, a grande mentira está no facto de serem os que mais contribuem para a riqueza deste país e que menos a partilham que são sempre acusados de terem gasto em demasia.
Por tudo isto e muito mais espero meus senhores que desta vez seja diferente, que não se deixem enganar e façam as elites de proxenetas pagar pelo que têm feito a este pobre país, obriguem-nos a rever as pensões como a do Cunha, ponham fim aos esquemas mafiosos das fundações privadas, obriguem-nos a extinguir os milhares de empresas municipais, fundações e outros esquemas montados para roubar o país, aumentem os impostos sobre os mais ricos, acabem com a zona franca da Madeira. É tempo de também serem eles a pagar. Façam o bem em nome de uma população inteira submetida a uma classe dirigente rapace e sem piedade.

Sem comentários: