26 abril 2011

CAVACADAS


O retrato ao alto faz hoje a capa do Diário de Notícias. Vemos o Presidente em exercício e os seus antecessores no momento em que ocupavam o palanque de Belém. Depois do inqualificável discurso da noite da eleição, e do statement de facção proferido no Parlamento no dia da inauguração, Cavaco viu-se obrigado, no transe actual, a apoiar-se nas muletas de Soares, Eanes e Sampaio. Para seu e nosso mal, Cavaco tornou-se, a partir de 9 de Março, Presidente de metade dos portugueses (a outra metade perdeu-lhe o respeito). Ciente de que a situação aguentava até ao fim do ano, transformou a anunciada “magistratura activa” numa Fronda ao governo. Não bastando o apoio explícito ao maior partido da oposição, permitiu-se o patrocínio à manif de 12 de Março.
Sabemos agora que o tiro lhe saiu pela culatra. A cacicagem do PSD obrigou Passos Coelho a provocar a queda do governo, [«Ou tens eleições no país ou no partido... Escolhe!», terá dito Marco António, o de Gaia] acto consumado a 23 de Março com o chumbo do PEC IV. Cavaco não previu a precipitação, nem a reacção imediata de Sócrates, e ficou com o bebé nas mãos.
Para desgraça sua e nossa, o guião acelerou. O país exigiu eleições; o governo foi forçado a pedir ajuda externa (a partir do momento em que a opinião pública tomou conhecimento do colapso iminente de dois grandes bancos e, em consequência, da eventual ruptura de pagamentos); a sombra do default paira sobre as nossas cabeças. Cavaco percebeu, da pior maneira possível, que tinha feito na tomada de posse o único statement que não podia fazer. Se, no CCB, a 23 de Janeiro, irritado com uma abstenção superior a 53% (e menos meio milhão de votos que em 2006), deu mostras de fraco carácter, o sentido de Estado exigia dele, a 9 de Março, a grandeza de que não foi capaz. E assim se chegou ao garden-party de Belém.
posted by Eduardo Pitta url

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