14 novembro 2011

  • Angola: trabalhar num país em construção


  • Uma refeição de fast food em Luanda custa 12,70 euros. Por mês, alugar um apartamento com dois quartos na capital angolana pode chegar aos 6500 euros. E a factura do supermercado é três vezes superior à de Lisboa. Hermínio Santos, autor do livro Trabalhar em Angola (uma edição da Planeta), não pinta uma realidade cor-de-rosa nas 112 páginas que dedica ao tema. Angola não é a terra prometida, o país de “dinheiro fácil, sol, praia, cerveja gelada”. A realidade é outra, mas nem por isso menos apetecível.
    O país está em construção e participar no (re)nascimento de uma sociedade pode ser aliciante numa altura de recessão em Portugal, com elevada taxa de desemprego e perspectivas de futuro pouco animadoras. O autor, jornalista e actual director do jornal Briefing, escreve um guia minucioso e alerta que a decisão de emigrar, mesmo que temporariamente, deve ser muito ponderada e baseada em informação sólida.
    Primeiro, não se devem fazer as malas na esperança de chegar à terra prometida. O crescimento é acelerado, sim, mas tudo está em construção. Há trânsito caótico nas ruas, os preços da alimentação e habitação são muito elevados, os serviços de manutenção são escassos, há dificuldades nas comunicações. Hermínio Santos avisa ainda que o tempo dos salários elevados terminou. Hoje um técnico qualificado recebe cerca de três mil euros mensais. Há cinco anos o mesmo trabalhador auferia cinco mil euros, a que acrescia subsídio de alimentação e refeições. Factores como a consolidação da paz, o regresso de angolanos com formação superior e o aparecimento de mão-de-obra de países asiáticos contribuíram para a estabilização dos salários “em valores mais realistas”.
    O livro também traça o retrato do país, descrevendo aspectos históricos e económicos, como a importância do petróleo, as relações com a China ou as parcerias entre Angola e Portugal. Sugere ainda como negociar a remuneração e os benefícios antes de partir, dirigindo-se, neste capítulo, a um público-alvo muito particular (os quadros de topo). Um técnico especializado tem margem de manobra reduzida e, provavelmente, terá de partilhar e meio de transporte com colegas. É importante ter em atenção quanto vai gastar por mês. A despesa mensal com a alimentação pode chegar aos mil dólares (cerca de 694 euros ao câmbio actual).
    Há informações sobre as oportunidades profissionais, como se pode criar uma empresa ou, por exemplo, os cuidados a ter ao nível de segurança. Neste aspecto, o autor alerta mesmo que o desleixo dos cuidados a nível de segurança é um erro comum. “Janelas fechadas, carro trancado, não atender chamadas na rua, não enveredar por caminhos que não conhece, são cuidados básico de segurança”, escreve.
    O livro responde também a dúvidas como “é fácil transferir dinheiro para Lisboa?” ou “se tiver um problema grave de saúde o que devo fazer?”. No final, há uma lista de contactos úteis e um “kit” essencial de entendimento. Assim, quando aterrar em Luanda já sabe como pedir uma “bitola” (cerveja) e “pitar” (comer) qualquer coisa.
    Trabalhar em Angola é mais dirigido aos quadros superiores que trazem de Portugal um conjunto de benefícios suportados pela empresa e não tanto aos que se aventuram sozinhos em Angola sem a força e apoio de uma função de topo. Quem tem de tratar sozinho da sua viagem e permanência no país, terá de ultrapassar desde logo as dificuldades de obtenção de visto. O autor apenas remete informação sobre os vistos para o site do Consulado de Angola, podendo ter aprofundado mais este tema. A verdade é este processo é lento e penoso. Enquanto não for assinado o projecto de acordo entre os dois países para melhorar a concessão (medida que deverá acontecer em meados de Setembro) este é o primeiro entrave a quem quer emigrar.
    Mas Angola não é só trabalho. E o lado turístico é muitas vezes esquecido pelos portugueses que pela primeira vez pisam o território. Hermínio Santos faz questão de enaltecer as belezas naturais, mas o país ainda tem muito a melhorar, nomeadamente ao nível das infra-estruturas.
    Certo é que, quanto melhor se conhecer Angola, melhor será a integração. Ana Rute Silva


    O autor
    Hermínio Santos tem 48 anos e é jornalista desde 1986. Entre Setembro de 2005 e Dezembro de 2010 foi assessor de comunicação do grupo Escom e, nessa qualidade, fez dezenas de viagens a várias regiões de Angola. Em 2008, foi um dos responsáveis pelo lançamento do semanário Novo Jornal. É o actual director do jornal Briefing.

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