26 novembro 2011

A CREDIBILIDADE DO NOSSO GASPAR...

O feliz e o contente sem razões para isso
                                                  O insuspeito Financial Times publicou esta semana o seu tradicional ‘ranking' dos ministros das Finanças e atribuiu a Vítor Gaspar um decepcionante penúltimo lugar em credibilidade - um lugar que a doutrina oficial julgava reservado, por definição, a ministros das Finanças socialistas.
O primeiro-ministro, tudo indica, continua a não ver em tudo isto mais do que sucessivos "murros no estômago". Do que se trata, porém, é de golpes que atingem, isso sim, o tronco da narrativa da crise que o actual Primeiro-Ministro perfilhou. À luz dessa narrativa distorcida, simplista e panfletária, a descida do ‘rating' de Portugal parecerá ao primeiro-ministro destituída de lógica: afinal, é ele e não Sócrates quem está a frente do Governo; nas Finanças está um liberal importado do BCE; as políticas de austeridade vão além do que a própria "troika" sugeriu e até o empobrecimento foi perfilhado como desígnio governativo. Mas onde verdadeiramente não há lógica é na "grelha de leitura" da crise que o primeiro-ministro teima em manter, para não pôr em causa a narrativa que lhe serviu para ganhar votos em Portugal - e que, aliás, é semelhante à que a chanceler Merkel mantém para tentar não perder votos na Alemanha.

E aí o temos: em Portugal, insistindo numa austeridade que ultrapassa em brutalidade e injustiça as exigências de qualquer "troika"; na Europa, recusando, mesmo contra o Presidente da República e a Comissão Europeia, uma resposta efectiva e solidária da zona euro à crise das dívidas soberanas, preferindo fazer coro com a Chanceler Merkel na defesa da prioridade à disciplina orçamental dos países do Sul.
Mas esta semana, quando a Alemanha falhou, pela primeira vez, uma emissão de dívida pública nos mercados financeiros, não consta que a chanceler Merkel se tenha queixado de ter sofrido um "murro no estômago". É mais provável que tenha finalmente compreendido que a realidade lhe estava a dizer alguma coisa. Se assim for, o primeiro-ministro que tome cuidado: em breve pode não ter com quem fazer coro. E ficará a falar sozinho.» [DE]
Autor:
Pedro Silva Pereira.

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