ÚLTIMA MENSAGEM
Na última mensagem deste blog, em nome de quem ao mesmo dedicou muitas horas dos últimos anos da sua vida, gostaria de agradecer a generosidade daqueles que dispensaram uma pequena parte do seu tempo a acompanhar, com maior ou menor frequência, o Dar-à-tramela.
Criado a 2 de Novembro de 2006 (data da primeira publicação), o Dar-à-tramela constituiu o principal espaço de opinião de um homem que mesmo após retirado da vida activa, continuava ávido de intervir. Era aqui que, nos últimos anos, concretizava a apaixonada necessidade de participação cívica e de intervenção política que, com maior ou menor discrição, o acompanhou em todo o percurso de vida.
Profundo defensor da social-democracia e europeísta convicto, mas verdadeiramente desiludido com a situação actual, nunca se conformou com a política daqueles que na sua opinião seriam, ou serão, os coveiros do estado social que caracterizou a política portuguesa e europeia nas últimas décadas e que distinguia, do ponto de vista civilizacional, o velho continente dos demais. Deixou-nos com a angústia de quem concedeu aos seus netos um difícil e penoso legado.
Era a escrever que melhor expressava o seu saber e sensibilidade. Colaborou com vários jornais locais e foi fundador do Jornal da Praia. Muito do seu tempo era também passado nas leituras. Eça de Queiroz era o seu escritor preferido, sem esquecer Miguel Torga, Machado de Assis e tantos outros. A música materializava o seu sublime sentido estético. Do Jazz à música tradicional portuguesa, da clássica à mais simples, apreciava todos os géneros musicais e mesmo aos 74 anos era capaz de ouvir e entender qualquer tendência musical, desde que daí proviesse a harmonia que o seu requintado ouvido exigia. Encarava o vinho como uma dádiva de Deus.
António Alves Barroso nasceu a 19 de Fevereiro de 1938 na Vila de Salto, concelho de Montalegre, Distrito de Vila Real. Chegou à ilha terceira em Agosto de 1959, para cumprir o serviço militar obrigatório na Base Aérea nº4. Foi na Praia da Vitória, “terra dos seus amores”, que encontrou o motivo da sua eterna ligação a esta ilha, a sua querida mulher Oriana, com quem casou em 20 de Outubro de 1963. Deste casamento, nasceram dois filhos, a Libânia e o Nuno, bem como cinco netos, o Diogo, a Beatriz, o Guilherme, a Laura e a Constança, a menina dos seus olhos, com quem partilhou, estou certo, alguns dos mais felizes momentos nos últimos anos da sua vida!
Em Julho de 1962, após o cumprimento do serviço militar obrigatório, iniciou a sua actividade profissional como especialista administrativo da Comando da Zona Aérea dos Açores, onde trabalhou durante 32 anos. Atingida a idade de reforma, decide regressar a Lisboa, em Janeiro de 1997, onde permanece durante 10 anos, regressando à Terceira em Setembro de 2007, após o falecimento de “sua” Oriana. É em Angra do Heroísmo que passa os últimos quatro anos da sua vida.
Morreu no passado dia 24 de Fevereiro, cinco dias após festejar o seu 74º aniversário, com a honra e dignidade que, para mim, sempre o distinguiu.
Da constança com carinho:)
Um exercício, veja se descobre...
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