10 julho 2011

POR ONDE ANDAVAM ESTES INDIGNADOS?...

 



Desde 1961 que a irritação patrioteira não tomava conta do país. Em 1961, a cada nova resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra Portugal (e foram várias), Salazar mandava organizar uma manifestação espontânea. Realizaram-se várias. Uma das maiores deu-se em Dezembro desse ano, quando os exércitos de Nehru ocuparam Goa. O país dos brandos costumes pediu a cabeça de Vassalo e Silva assim que soube que o último governador do Estado Português da Índia ordenara a rendição. Salazar poupou-lhe a cabeça mas prendeu-o e expulsou-o das Forças Armadas.


Serve o preâmbulo para explicar os mecanismos de indignação colectiva.

A fronda contra as agências de rating segue o modelo. Cavaco esteve calado enquanto Sócrates mandava. De repente, o Chefe do Estado afirma sem pudor que as agências de rating norte-americanas são uma ameaça à estabilidade da economia europeia. Percebe-se a irritação. A poucos dias das eleições, ainda o PSD dizia (com o beneplácito de Cavaco) que a mudança de governo alteraria por completo o diagnóstico dessas agências. Facto é que a Moody's ficou imperturbável com o pacote Gaspar, agindo em conformidade.
Se as pessoas tivessem visto este filme, percebiam o que está em jogo. Inside Job esteve dois meses nas salas e há poucas semanas até foi oferecido com uma edição do Expresso, semanário que em Novembro do ano passado patrocinou uma sessão privada para a qual foram convidadas todas as notabilidades que diariamente vêm à televisão pastorear a malta. Onde é que está a surpresa com a sentença da Moody's?
Com certeza que estas agências são perniciosas! Mas onde estavam há dois meses os indignados de hoje?
[Na imagem, Christine Lagarde, actual directora do FMI, entrevistada em Inside Job.]

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