04 maio 2011

A CATERVA DE OPINADEIROS QUE DEVIAM SER POSTOS A PÃO E AZEITONAS

Durante semanas, os jornais disputaram entre si a primazia da cacha hard. Restrições, cortes, supressões. Especialistas filiados deram o seu aval: Atribuir o subsídio de férias aos pensionistas é uma aberração. Tem de ser cortado! Bagão Félix, por acaso, discordou. A débâcle é o afrodisíaco dos cantigueiros encrespados. Súbito, o governo fecha negociações com a troika. Ninguém mexe nos subsídios de férias e de Natal. Os vencimentos da Função Pública e os salários do sector empresarial do Estado mantêm-se como estão (ou seja, cortes para o somatório das remunerações de valor igual ou superior a 1550 euros). O salário mínimo permanece intocado. As pensões idem, sendo as mais baixas actualizadas. Conforme consta do PEC IV. A idade legal da reforma não é alterada.
Um murro no estômago da caterva de opinadeiros que, tendo ficado sem narrativa, aposta numa política de terra queimada. Veja-se o desastrado sermão da montanha de Catroga, chamando a si os louros de uma negociação para a qual não foi tido nem achado (como demonstra o incontido desejo de mudança do mix...). Declaração aventureira, lhe chamou Medeiros Ferreira, que tem educação suficiente para não lhe ter chamado aldrabão.
Sejamos claros. As pessoas estão a borrifar-se para a revisão em alta do défice. As pessoas querem lá saber se algumas empresas do sector público vão ser privatizadas. As pessoas querem saber se têm dinheiro para pôr comida na mesa, pagar a hipoteca da casa, a escola dos filhos e a prestação do carro. A revisão em alta do défice é o tipo de assunto que interessa a trinta bloggers que passam fins-de-semana em Bruxelas, a convite do PPE, ou na Comporta, a convite dos patrões. As pessoas querem saber se têm subsídio de férias para pagar dívidas acumuladas no primeiro semestre do ano. E depois subsídio de Natal para poder oferecer aos filhos o aparelho fixo (dentário) que se tornou a imagem de marca da geração sub-15.
Não perceber isto é não perceber o país que somos. Por isso foi importante que o primeiro-ministro tivesse vindo dizer, preto no branco, como vai ser. Ontem, milhões de portugueses puderam respirar de alívio. Verdade que, não obstante os 78 mil milhões do resgate (coisa diferente dos propalados cem mil milhões), os desempregados continuam desempregados. Um drama a que não podemos fechar os olhos. Mas o aperto geral goza um ano de dilação. Pagar juros de 4% ou mesmo 5% não é o mesmo que pagar 11% ou mais. E assim sucessivamente. Se dúvidas houvesse, fica claro que a situação de Portugal não é comparável às da Grécia e Irlanda. Chega de truques.
Já agora, se mal pergunto: quem votar no PSD, vota Catroga ou Passos Coelho?in Da Literatura

[Foto: Público.]


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