CHINA -UMA SUPERPOTÊNCIA
Superpotência para alguns, China ainda busca meios para reduzir número de pobres. Num documento apresentado nesta quarta (16), China afirmou que sua estratégia de redução da pobreza rural fez o número de pobres no campo cair de 94 milhões para 27 milhões em dez anos. Mas diferenças no conceito de pobreza e migração rural "favorecem" dados do governo, que busca novas formas de ampliar acesso à saúde e educação.
Marcelo Justo - Direto da China
Superpotência ou país em desenvolvimento? Os Estados Unidos preferem definir a China pelo primeiro termo, a China se valoriza da segunda maneira. A realidade é que o gigante asiático tem centenas de milhões de pobres.
Em um documento apresentado nesta quarta-feira (16), o governo avaliou que graças a sua estratégia de redução da pobreza rural, esta diminuiu de mais de 94 milhões de pessoas no final de 2000 a cerca de 27 milhões no final de 2010, “conquista equivalente a tirar toda a França da pobreza”, segundo a agência oficial Xinhua.
Mas o copo também está meio vazio. Um notável buraco da estratégia social chinesa é a migração interna, uns 200 milhões de pessoas de zonas rurais que procuram trabalho na cidade e que não têm acesso a serviços de saúde ou educação do Estado.
Os camponeses chineses, que hoje formam pouco mais da metade da população total (quase 1,4 bilhões de pessoas), são um espinho no coração da revolução. Setor chave da vitória comunista liderada por Mao Tse Tung, os camponeses receberam suas terras da reforma agrária na década de 50 e passaram a sustentar, com seus impostos e sua pobreza, a industrialização e modernização nacional.
Segundo o governo, esta situação está mudando graças aos programas de redução da pobreza que vêm impulsionando desde 2000. Na primeira década do século XXI o gasto estatal para a redução da pobreza triplicou com um aumento médio de 11,9% anual, resolvendo, segundo o documento oficial, os problemas de subsistência, alimentação e vestimenta dos residentes rurais, enquanto o analfabetismo baixou de 12% no princípio da década a 7% atualmente.
O copo meio vazio desta avaliação é a definição de pobreza do governo. Segundo as autoridades, pobres são os que ganham menos de 1.274 yuans anuais (uns 200 dólares). Este valor está muito abaixo do barômetro internacional que rondou o dólar diário.
Seja qual for a medida, as cifras mostram expectativas muito longes das de uma superpotência mundial. Se por um lado se avançou, por outro não há razões para estourar champanhe. A realidade é que 27 milhões de pessoas não chegam a 54 centavos de dólar diários, 67 milhões mal superam esta marca e o número total seria muito maior se fossem aplicados outros critérios.
Em um documento apresentado nesta quarta-feira (16), o governo avaliou que graças a sua estratégia de redução da pobreza rural, esta diminuiu de mais de 94 milhões de pessoas no final de 2000 a cerca de 27 milhões no final de 2010, “conquista equivalente a tirar toda a França da pobreza”, segundo a agência oficial Xinhua.
Mas o copo também está meio vazio. Um notável buraco da estratégia social chinesa é a migração interna, uns 200 milhões de pessoas de zonas rurais que procuram trabalho na cidade e que não têm acesso a serviços de saúde ou educação do Estado.
Os camponeses chineses, que hoje formam pouco mais da metade da população total (quase 1,4 bilhões de pessoas), são um espinho no coração da revolução. Setor chave da vitória comunista liderada por Mao Tse Tung, os camponeses receberam suas terras da reforma agrária na década de 50 e passaram a sustentar, com seus impostos e sua pobreza, a industrialização e modernização nacional.
Segundo o governo, esta situação está mudando graças aos programas de redução da pobreza que vêm impulsionando desde 2000. Na primeira década do século XXI o gasto estatal para a redução da pobreza triplicou com um aumento médio de 11,9% anual, resolvendo, segundo o documento oficial, os problemas de subsistência, alimentação e vestimenta dos residentes rurais, enquanto o analfabetismo baixou de 12% no princípio da década a 7% atualmente.
O copo meio vazio desta avaliação é a definição de pobreza do governo. Segundo as autoridades, pobres são os que ganham menos de 1.274 yuans anuais (uns 200 dólares). Este valor está muito abaixo do barômetro internacional que rondou o dólar diário.
Seja qual for a medida, as cifras mostram expectativas muito longes das de uma superpotência mundial. Se por um lado se avançou, por outro não há razões para estourar champanhe. A realidade é que 27 milhões de pessoas não chegam a 54 centavos de dólar diários, 67 milhões mal superam esta marca e o número total seria muito maior se fossem aplicados outros critérios.
O governo é consciente destas limitações e - em especial depois do leve giro à esquerda representado pela dupla formada pelo presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao – vem estimulando programas sociais focalizados junto a projetos estruturais como a universalização de um sistema de pensões e de atenção médica.
Em agosto o primeiro-ministro Wen Jiabao anunciou que em 2015 toda a população rural teria acesso à aposentadoria. Uns 50 milhões de pessoas de um programa piloto lançado em 2008 para as zonas mais pobres do país já estão recebendo esses benefícios.
A política governamental enfrenta, porém, um totem intocável: o “hukou”. Este registro de residência, criado em 1958 para controlar o fluxo migratório interno, é vital para aceder aos serviços estatais de saúde e educação.
Nas últimas duas décadas o milagre econômico chinês se alimentou da mão-de-obra barata que este fluxo camponês acrescenta, calculado hoje em 14% da população. Nas cidades ganham mais que no campo, mas pagam um preço. Na área de saúde têm a opção de se tratar como pacientes privados ou retornar ao seu lugar de origem, onde muitas vezes não têm acesso à atenção necessária.
No plano educativo, têm que mandar seus filhos às escolas privadas de organizações voluntárias ou deixá-los com seus avós ou parentes. Em agosto e setembro a imprensa local publicou nas primeiras páginas o fechamento destas escolas para trabalhadores migrantes na capital Beijing e o escândalo que significava uma população infantil sem direito à educação.
O sistema é tema de debate e de alguns programas piloto para torná-lo flexível, mas no momento não há sinais de reforma séria. Sem mudanças neste nível, as medições de pobreza na China terão o sabor de uma estatística distorcida por malabarismos burocráticos
in Carta Maior.
Em agosto o primeiro-ministro Wen Jiabao anunciou que em 2015 toda a população rural teria acesso à aposentadoria. Uns 50 milhões de pessoas de um programa piloto lançado em 2008 para as zonas mais pobres do país já estão recebendo esses benefícios.
A política governamental enfrenta, porém, um totem intocável: o “hukou”. Este registro de residência, criado em 1958 para controlar o fluxo migratório interno, é vital para aceder aos serviços estatais de saúde e educação.
Nas últimas duas décadas o milagre econômico chinês se alimentou da mão-de-obra barata que este fluxo camponês acrescenta, calculado hoje em 14% da população. Nas cidades ganham mais que no campo, mas pagam um preço. Na área de saúde têm a opção de se tratar como pacientes privados ou retornar ao seu lugar de origem, onde muitas vezes não têm acesso à atenção necessária.
No plano educativo, têm que mandar seus filhos às escolas privadas de organizações voluntárias ou deixá-los com seus avós ou parentes. Em agosto e setembro a imprensa local publicou nas primeiras páginas o fechamento destas escolas para trabalhadores migrantes na capital Beijing e o escândalo que significava uma população infantil sem direito à educação.
O sistema é tema de debate e de alguns programas piloto para torná-lo flexível, mas no momento não há sinais de reforma séria. Sem mudanças neste nível, as medições de pobreza na China terão o sabor de uma estatística distorcida por malabarismos burocráticos
in Carta Maior.
Sem comentários:
Enviar um comentário