18 fevereiro 2012

A CAMINHO DA DESTRUIÇÃO DO "EURO"?

 





Milhões de portugueses viram e ouviram ontem à noite nas televisões os formatadores de opinião com lugar cativo nos media - que tenho designado de "comentadores da economia doméstica" - dizer que estas medidas de austeridade eram inevitáveis porque os mercados assim o exigiam. Caso contrário, deixariam de nos comprar a dívida pública.

E para dar mais força ao argumento, diziam: "ponham os olhos na Espanha que não deixou apodrecer a situação e cortou a despesa logo em Maio. Agora pagam taxas bem inferiores às nossas." E parecia que tinham razão.
Mas não tinham. Como temos explicado no Ladrões (mais recentemente
aqui e aqui), quer a boa teoria económica - aquela que deixa a realidade questionar os seus pressupostos e as causalidades que propõe - quer a trajectória recente dos países do euro que aplicaram a política económica do FMI, dizem-nos que políticas de austeridade em períodos de recessão são contraproducentes, sobretudo quando não podem ser apoiadas por desvalorizações competitivas.

Ou seja, os países do euro que adoptaram a austeridade continuam a apresentar "fracas perspectivas de crescimento", o que aliás levou a uma recente queda da notação da dívida irlandesa. Em consequência, a Irlanda já está outra vez a pagar juros proibitivos. Mas foi para acalmar estas agências que o governo da Irlanda tinha reduzido os salários dos funcionários públicos por duas vezes num total de mais de 20%.

Pois bem, a Espanha acaba de saber que também está na mesma espiral recessiva da Grécia, Hungria, países do Báltico e Irlanda. Hoje no
Público (electrónico): "a agência de notação financeira (rating) Moodys baixou hoje a nota da Espanha em um nível devido às fracas perspectivas de crescimento económico, adiantando que a recuperação dos sectores de construção e imobiliário vai demorar vários anos."
Recordo que a Espanha é o maior destino das nossas exportações.
Apesar da esmagadora propaganda que a SIC e a TVI fazem quanto à necessidade desta política, mais tarde ou mais cedo a maioria dos portugueses vai perceber que Portugal entrou numa espiral recessiva: em finais de 2011 teremos muito mais desemprego, um défice público que resiste à descida e uma dívida pública ainda maior. E mesmo com um orçamento aprovado/tolerado pelo PSD, as agências acabarão por dizer que o país tem "fracas perspectivas de crescimento económico" e decretarão que a dívida pública portuguesa é "lixo".
E o Banco Central Europeu não terá outro remédio senão continuar a financiar os bancos portugueses, e os dos restantes países em dificuldades, enquanto a Alemanha não decidir mudar de orientação ou ... acabar com o euro. Sim, este caminho foi uma decisão política da Alemanha. Recusou uma política expansionista de relançamento coordenado da economia europeia e entregou a nossa sorte aos humores das agências financeiras.
Paul De Grauwe, professor na universidade de Lovaina e especialista de economia europeia, explica tudo (
aqui e aqui).
O problema é que em Portugal a esmagadora maioria dos actores políticos não sabe e/ou não quer ver. E, como se sabe, o pior cego é o que não quer ver. Até quando teremos de esperar por uma alternativa política?
Não há ave que resista

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