16 fevereiro 2012

INFERNO MADE IN GERMANY


O economista Daniel Gros revelou há dias um número relevante: apesar da violenta austeridade imposta à Grécia nos últimos dois anos e da recessão profunda em que o país se encontra - 16 trimestres consecutivos a perder riqueza e ainda a seguir para bingo -, os gregos só têm dinheiro para sustentar 80% do seu nível de vida. O resto, os 20% que seriam precisos para manter o país a funcionar, tem de ser financiado através de empréstimos no exterior, já que não há poupança nem recursos internos para compensar o desequilíbrio, mas hoje esse capital já não existe. Fugiu.
Ou seja, a seguir a este novo pacote que está a ser negociado a custo com a troika, se nada de extraordinário mudar na Zona Euro, a Grécia terá de continuar indefinida- mente ligada à máquina e a viver às pinguinhas. Os gregos acabam, portanto, de entrar no quinto ano de recessão, mas já perceberam que têm pela frente mais um interminável período de empobrecimento profundo, enxovalho político e cultural - made in Germany - e um doloroso drama social que envergonhará a Europa durante muitos anos.
Com o desemprego a atingir 47,2% dos jovens - um em cada dois! - e 19% entre do resto das pessoas, é simples perceber a dimensão humana da catástrofe a que os portugueses e os outros europeus assistem sem grandes inquietações, exceto o terrível pavor de que a maré também acabe por engoli-los. Desde o início da crise da dívida soberana, a atitude tem, aliás, sido sempre a mesma em Portugal, na Irlanda, em Espanha e agora também em Itália: os gregos são um povo amigo, mas para manter patrioticamente à distância, como se fazia com os leprosos.
Compreende-se a necessidade de Passos Coelho, Mariano Rajoy e outros tantos fugirem a sete pés da comparação grega para continuarem fiéis ao diktat alemão e, assim, permanecerem ligados a um ténue fio de esperança. No entanto, chegados a este ponto dramático na vida de um povo, é obrigatório ser um pouco mais corajoso. O ciclo de miséria grega e a sua rota interminável têm-se agravado pelos inúmeros falhanços orçamentais e políticos internos, é inegável, mas também pelo obscurantismo financeiro alemão que se perpetua graças à fragilidade (cobardia) dos outros países.
A troika falhou na Grécia. Fez mal as contas. Não emprestou dinheiro suficiente. Fê-lo por um período ridiculamente curto (três anos, como exige o FMI). Calculou mal o efeito recessivo e a espiral negativa. E definiu objetivos financeiros e económicos surreais. A Grécia já não é um país, é um laboratório onde jaz um Estado (quase) falhado. Kaputt, dirá um dia a sr.ª Merkel enquanto nós, com sorte, seguiremos a nossa vidinha.

 
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