13 fevereiro 2012

O COELHO DOS PASSOS - CULPA É DA PREGUIÇA

            
                                                                      

                                                                                                                               

 

 

 

• Pedro Adão e Silva, A culpa é da preguiça    [ontem no Expresso]:

    Pieguices à parte, o primeiro-ministro achou por bem esta semana elaborar sobre os males do país e não lhe ocorreu melhor do que remeter as causas do nosso atraso para um problema genérico de indolência, que se manifesta numa propensão para a preguiça. Revelando-se um genuíno antilafargueano, Passos Coelho ilustrou o “caso português” com um exemplo: “recordam-se o caricato que foi na altura, a troika estar em Lisboa a trabalhar, para saber como deviam fechar o acordo de ajuda a Portugal, estando o país fechado para férias devido a umas pontes”. As pontes, convém recordar, eram apenas dois feriados, o 25 de Abril e a Páscoa (uma curiosa paridade entre, para utilizar a surreal formulação do Governo, um feriado civil e um religioso). Certamente entusiasmado pelo seu raciocínio, não escapou a Passos Coelho um corolário lógico – “a troika trabalhava, o País aproveitava as pontes” – para logo revelar a sua profunda ambição política, “transformar velhos comportamentos preguiçosos” (sic). (…) Mas, acima de tudo, o argumento da preguiça revela uma interpretação desadequada da natureza da crise. No fundo, estamos perante uma interiorização depurada da crise como “culpa moral”, que faz certamente rejubilar a srª Merkel. ara Passos Coelho, pelos vistos, os problemas do euro são uma espécie de fábula: certos povos têm uma propensão incontrolável para o ócio, pelo que têm de mudar de atitude, expiando o mal e abandonando “velhas tradições” (começando pelo paradigma de hedonismo que dá pelo nome de Carnaval). É verdade que há muita literatura que procura explicar a diversidade do capitalismo e as suas diferentes trajetórias, mas desconheço tentativas de explicar atrasos económicos com base em feriados e pontes. Devo estar a ficar preguiçoso.’

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