12 novembro 2006

As voltas que o munda dá

António Barreto que conheci nos Açores pouco tempo depois do 25 de Abril, era um homem cordato e um comunicador excepcional. Muito contribuiu para a implantação do PS naquela Região. Era o meu herói e de muitos outros jovens como eu que esperavam dele um papel importante no futuro do Portugal democrático em construção. Por acaso ou não, tal não se verificou e aguns de nós, à distância, seguimos as saltadelas dele para fora do PS . Eu não regressei mais, outros regressaram. Nunca perdi o contacto com o que AB escrevia, seus artigos de opinião e tudo que publicava, até hoje. António Barreto regressou ao PS mas tornou-se muito amargo. Apanhou Cavaco Silva pela frente como Primeiro Ministro e foram anos de combate. A campanha contra a construção do Centro Cultural de Belém ficou famosa. Dizia-se "ninguem queira aquele homem contra". Foi uma das vozes com forte audiência que contribuiram para o fim do período de governação do PSD e a eleição do Governo PS. Com o guterrismo e algumas carrilhadas de permeio, Barreto virou a sua pena contra tudo que cheire a PS, até aos dias que correm. Hoje o meu antigo herói parece-me um homem muito desiludido, profundamente amargurado e os seus escritos tornaram-se deprimentes. Foi ao visitar o "Abrupto" de Pacheco Pereira que vejo lá transcrito um artigo de A.Barreto do Jornal Público e pensei para com os meus botões: o pensamento do meu antigo herói já agrada a Pacheco Pereira?! Com trinta diabos! Nos tempos em que A.Barreto, com sua moderação e sensatez, combatia os extremistas e ajudava o PS a implantar-se, Pacheco Pereira andava nos PCP's ML's e quejandos, a dar corda à revolução operária contra o capital. Na era de Cavaco Silva Pacheco já era mais PPD que os seus fundadores. Hoje vejo-o a transcrever na sua bíblia em construção os pensamentos de A.Barreto (o meu antigo herói) . As voltas que o mundo dá e tanta gente em busca da coerência.

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