16 fevereiro 2007

Manuel Alegre - O Sumo Sacerdote

Talvez passe despercebido a muito boa gente mas está a surgir na vida política nacional algo de surpreendente, que ousaria chamar de "O Sisma Manuel Alegre". Toda a acção do Político/Poeta é notoriamente anti partidos, visando em última análise o PS. O próprio e seus fieis seguidores podem criar tertúlias, retiros espirituais de reflexão, movimentos e sub-movimentos de cidadania, mas uma coisa não podem escamotear: o que norteia o celebrado poeta não será o generoso espírito do cidadão impoluto, movido por apelos místicos de cidadania, não acessíveis ao simples mortal... São coisas bem mais terrenas e comezinhas!
Com efeito, é evidente que toda a actual acção política de M.A. comporta uma reacção a derrotas democráticas sofridas no interior do "seu" partido, desaires que uma grande soberba, desmedida vaidade e auto convencimento, não lhe permitiram suportar com a exigida humildade democrática. Outros derrotados,excluidos de listas e variados desempregados, tornaram-se verdadeiros apóstolos da causa. E Manuel Alegre parece sentir-se bem no papel de Sumo Sacerdote da seita que se quer substituir aos partidos, amalgamando aderentes de quadrantes vários que, mais cedo ou mais tarde, poderá ser uma espécie de União Nacional refundada (sem partidos, logo...sem partidocracia!)
Não há democracia sem partidos e os verdadeiros democratas lutam dentro deles para os tornarem melhores, sobretudo aqueles que têm responsabilidades históricas. Pelo contrário, o que Manuel Alegre e a sua seita está a fazer é tentar desmantelar, reduzir, tornar irrelevante o partido político que o acolheu. Não descortinamos outros objectivos do mal humorado senhor.

14 fevereiro 2007

"O PROFESSOR MARCELO"

O professor Marcelo parece representar bem o típico português popularmente reconhecido como superletrado e superdotado, conhecedor de todas as ciências, incluindo as ocultas, mas que, na prática, não revelam reais aptidões para deixar marcas de assinaláveis feitos. Para o nosso estimável prestidigitador das noites dominicais da RTP devemos desde já lançar a seu crédito a façanha de ter criado o referendo sobre o aborto que, reconheçamos, é obra de iluminado! (Não venha agora o seu comparsa Guterres, a destempo, usurpar o feito...). Mas sobre o professor Marcelo que, como também é óbvio e intuitivo, nada tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, não resisto a transcrever parte de um texto da excelente jornalista Helena Matos (in Pingue-Pongue, no Público de ontem), com a devida vénia:
"(...) Depois de termos sobrevivido à desilusão de percebermos que a saudade não é um exclusivo nacional, que não existem linces na Malcata e que já nem somos os únicos a cozinhar bacalhau, consola-nos descobrir que temos um novo ícone da singularidade lusa: o professor Marcelo. Como bem se percebe, o professor Marcelo nada tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa. O professor Marcelo não é uma pessoa. É um posto. Os romanos, povo de sentido indiscutivelmente prático - quem senão eles poderia chamar Primeiro, Segundo ou Terceiro aos filhos? -, acharam por bem criar um cargo que, à falta de mais pacífica designação, adquiriu o nome de quem o ocupava. Falo obviamente dos césares. Portugal não é o Império Romano, logo não falamos de césares e pretorianos mas sim do que disse o professor Marcelo, essa espécie de holograma que ora nos narra tudo o que fez nos últimos sete dias - e esse tudo implica pelo menos um concerto na Baviera e uma palestra em terras de Basto, uma aula sobre Direito em Luanda, três pareceres, duas apresentações de livros e um jogo de futebol - ora nos enreda nas voltas e contravoltas do seu raciocínio tão narcísico quanto hiperactivo. Nas palavras do professor Marcelo os crimes não têm pena e o "não" passa a "sim". Mas nada disto importa porque o professor Marcelo usa as palavras como os outros deitam cartas. Mais do que o explicador de Portugal ao povo e às crianças, ele é o grande ilusionista da nação.
O professor Marcelo, que, repito, não tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, foi ministro dos Assuntos Parlamentares e Presidente da Assembleia Municipal de Celorico de Basto. À parte isso também foi líder do PSD e candidato à presidência da CML. Sendo a soma de tudo isto alguma coisa, teremos de reconhecer que currículos destes não são raros, mesmo em Portugal. Raro, raríssimo até, é um homem que, como Marcelo Rebelo de Sousa, falhou em quase tudo no plano executivo, conseguir ocupar tão elevado posto: o de professor Marcelo."
Importa porém referir uma evidência: o professor Marcelo não pretenderá ser mais que o professor Marcelo. Quando muito o Super Professor Marcelo. A nossa grande indigência reside,em boa medida, no culto acéfalo das personalidades mediáticas. E o professor Marcelo, na desmesurada mediatização dos seus solilóquios, contribui para uma maior indigência do pensamento político neste país. E a RTP com estes farsantes solilóquios presta um mau serviço ao país. É serviço público do avesso, cujo objectivo é no mínimo obscuro, ressalvando o interesse lúdico e o bem patente prazer do professor Marcelo, sempre disposto a fazer as suas prédicas em directo nem que seja a partir da Patagónia (com ou sem a submissa partnaire). Quanto custarão aos contribuintes os prazeres e outros eventuais interesses do cavalheiro, incluindo os de carácter político-partidário? (O professor Marcelo parece que "flutua" acima de tudo e de todos, mas essa é a sua verdadeira faceta de ilusionista...)

12 fevereiro 2007

A Madeira tem um problema: "O JARDINISMO"

Com a devida vénia e porque considero a CRÓNICA de Nuno Brederode dos Santos, publicada no DN, uma peça de referência sobre a questão "Jardim/Lei das Finanças Regionais", passo a transcrevê-la na íntegra para enriquecimento dos arquivos do meu neófito blog:
"A PROMULGAÇÃO"
O Presidente da República promulgou a Lei das Finanças Regionais. E -lo "dissipadas que foram as dúvidas de constitucionalidade" e "após cuidada ponderação dos diversos interesses em presença."
Para uma resposta de circunstância e orgulho ferido foram convocados novos heterónimos de Alberto João Jardim: no caso, além da Fama(que, a tê-la, é má), os deputados Miguel Mendonça (também Presidente da Assembleia Legislativa) e Gabriel Drumond. Pudemos assim ver a elite do jardinismo comparar Cavaco a Pôncio Pilatos e acusá-lo de "receio" perante o Governo (que é "mentiroso e caloteiro") e de "deslealdade" para com os madeirenses (que "o elegeram"). Entre muitas mais acusações, só não houve uma palavra para retomar as insinuações independentistas e as ameaças de demissão de Jardim para provocar eleições.
Filmado pela televisão no Funchal, um transeunte de bom traje e melhores falas justifica a decisão de Cavaco, sublinhando que ele é insuspeito porque até "é do mesmo partido" e conclui, desdramatizando, que a verba da discórdia nem é assim tão grande: bastaria o Governo Regional deixar de subsidiar o "seu" jornal e os clubes da Madeira. Vi nisto auspícios para os três grandes problemas que nos estão colocados.
O problema de Jardim foi a surpresa de finalmente encontrar no Governo central uma atitude de firmeza: nunca lhe respondeu por palavras (Sócrates -lo na Madeira, mas enquanto secretário-geral do PS), mas não cedeu no exercício das suas competências. Mas foi tabém aquilo que aqui escrevi em 26 de Março do ano passado:"Talvez um dia Jardim perceba que a eleição de um Presidente oriundo do PSD (no caso, aquele a quem bondosamente tratou por "Sr Silva") pode não ser um episódio feliz da sua vida...
O problema da Madeira é a renovação aprazo de uma equipa dirigente formada no caciquismo, na impunidade, na demagogia, na irresponsabilidade, na retórica independentista, no desbragamento verbal e na total ausência de solidariedade, institucional e nacional. E mesmo que hipotéticamente na oposição, este problema não se resolve, sem delongas e custos escusados, enquanto o PSD o encobrir e não se empenhar também na solução. (o sublinhado é meu).
Finalmente o problema de Portugal: o que esperam os ansiosos da regionalização (administrativa) enquanto a imagem que dela tem o eleitorado possa aparecer marcada pela Madeira de Alberto João Jardim?