05 março 2007

Salvaterra de Magos, a "Asterixa" e as poções mágicas do Bloco de aEsquerda

(...) A única representante no poder autárquico do Bloco de Esquerda foi constituída arguida. Nada de extraordinário, se olharmos à volta, pois isso está a acontecer a todos os partidos (menos ao CDS, que se livrou de Ferreira Torres e agora apenas tem a sua aldeia de Asterix em Ponte de Lima) e por todo o país.
O que existe de maravilhoso e merecedor de realce nesta história é o facto de o Bloco de Esquerda se ter apressado a declarar que esta constituição de arguido se deve a uma conspiração de mesquinhos e horrorosos adversários, que desse modo conseguiram enlamear quem o não merecia e que, por isso, era o que faltava que ela suspendesse o mandato, como invariavelmente o BE pede para os outros partidos. Não me repugna assumir que ela esteja a ser vítima de manobra, sabendo por experiência profissional que a prática policial é constituir arguido quem não que está morto, desde que surja - notificado ou não para o efeito - em frente de uma qualquer esquadra de polícia.
O que me emociona é outra coisa. É que o Bloco de Esquerda não se aperceba que essa mesma teoria se pode aplicar a outras, em tese todas as outras situações em que são constituídas arguidos vereadores ou presidentes de câmara de partidos rivais. Também eles podem estar a ser vítimas de manobras, de vinganças, de maldade congénita e perversa dos seus adversários. E sempre a ingenuidade me comove...
O que me espanta é que surja, no século XXI, de novo, a teoria da superioridade moral das pessoas que aderem a uma ideologia ou integram um partido político, como se à porta de entrada recebessem um banho lustral e uma inoculação de anticorpos que os tornasse imunes aos males da vida. E sempre fico meio arrasado quando deparo com tanta ilusão...
O que me emociona é descobrir - velho cínico e cansado - que, mais uma vez, os catões, que se especializam em estigmatizar tudo e todos em nome de uma radical e inegociável tolerância zero para com os pecados alheios, se tornem magicamente em pessoas tolerantes para com os pecados próprios. Sempre me vêm as lágrimas aos olhos quando encontro uma velha figura do mundo clássico renascendo nos nossos tempos...
«Excerto de um artigo de JOSÉ MIGUEL JÚDICE - Jornal PÚBLICO -
que, com a devida vénia, transcrevemos pela excelente análise que contem

Sem comentários: