13 março 2010

UM PRESIDENTE SEM GRANDEZA

O país político vive há muitos meses, anos mesmo, nas nuvens, perdido nos labirintos das inutilidades em que se concentra, distanciando-se cada vez mais do país real (aquele que numa sondagem, hoje divulgada, da Universidade Católica, dá 41% de intenções de voto no Partido Socialista). Há meses que o país político concentra a sua atenção num negócio entre empresas privadas, como se o destino dos portugueses daí dependesse: a compra pela PT de 35% do capital da TVI à Prisa. O Parlamento esgota-se em Comissões de Ética e em Comissões de Inquérito à procura do "pecado original". Até Presidente da República, na entrevista de ontem, disse, com ar cândido: "numa sociedade democrática a compra de uma televisão não pode deixar de ser transparente. Não só não pode acontecer sem o conhecimento do governo, como sem o conhecimento da opinião pública. Deve ser uma operação muito transparente". Enquanto o país político se entretinha com as tretas do costume, na sexta-feira passada, um fundo norte-americano, o Liberty Acquisition, adquiriu a maioria do capital da Prisa e, em consequência, da TVI. Para tal, não foi necessário o "conhecimento do governo", nem o "conhecimento da opinião pública". As regras de mercado não se compadecem com a hipocrisia política reinante. E Cavaco Silva, pessoa que está tão talhada para o exercício do cargo que ocupa como um caracol para vencer uma maratona, ainda ontem naquele arremedo de entrevista no seu serão com a mulher do presidente da Câmara de Sintra, verteu peçonha bastante para dar fôlego à operação que os seus sequazes levam a cabo para destruírem a figura do Primeiro Ministro do Governo de Portugal. Dificilmente se encontrará na nossa história alguém que tenha exercido a mais alta magistratura da Nação com tão baixo substrato intelectual e falta de grandeza humana. Reeleger este homem será mesmo um acto anti-patriótico.

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