06 fevereiro 2011

O AMOR NO FACEBOOK É F...






Rita entra todas as noites na conta do Facebook do namorado. Como a rede social permite duas entradas simultâneas na mesma conta (experimente entrar no seu Facebook em dois computadores diferentes e à mesma hora), ao mesmo tempo que o namorado está em casa a teclar, Rita está em casa dela, dentro da página dele, a acompanhar em tempo real cada conversa que ele mantém no chat. No final, imprime o documento em que gravou palavra a palavra todas as conversas, e até as horas em que decorreram, e vai pedir satisfações ao namorado. Discutem, a seguir fazem as pazes. Ele censura-a mas não muda a palavra-passe. Tudo na mesma. Passado uns tempos, a rotina nocturna de Rita recomeça.
Carla foi perseguida via Facebook quando decidiu terminar com o namorado. Primeiro ele começou a inundar o mural dela com vários "amo-te". Depois, saltou para os comentários agressivos, que ela tinha de apagar no instante seguinte. A seguir, começou a fazer "like" e a deixar comentários em todas as fotos e links das amigas. No final, depois de ser "desamigado", ainda foi capaz de criar um perfil falso com o nome de um amigo de Carla para que ela aceitasse o pedido de amizade e ele pudesse entrar na sua página. "Ele não conseguia aceitar a minha decisão. Passou meses a fazer-me a vida negra no Facebook."
Ana tinha um namoro em crise mas a relação só terminou oficialmente depois de mudar o estado civil no Facebook de "numa relação" para "solteira". Ele foi o primeiro a limitar o acesso dela a alguns conteúdos do seu perfil. Ela, em retaliação, desamigou-o. A amizade voltou mas não se voltaram a "amigar" no Facebook. "Dá para manter a distância sem ficar a olhar para as fotos ou a pensar na frase que o outro escreveu."
Sofia ficava enfurecida de cada vez que Rui - um rapaz com quem se envolveu mas com quem nunca assumiu uma relação - deixava um comentário ou publicava um link na página do Facebook. Se ele escrevia "ai" ela ficava irritada. Se ele escrevia "ui" ela ficava irritada. Se ele publicava vídeos do YouTube, ela lia cuidadosamente as letras das músicas à procura de uma mensagem indirecta. Se ele publicava fotos com a namorada, ela sentia-se ofendida e provocada. E se ele comentava algum link deixado por um amigo em comum, ela, por mais vontade que tivesse, já não comentava. "Já estava tão farta de que as coisas dele me afectassem que um dia decidi ocultar tudo o que ele publicava. Olhos que não vêem, coração que não sente." A estratégia habitual do "desamigar" ainda lhe passou pela cabeça mas a bisbilhotice falou mais alto. "Queria ter a possibilidade de ir cuscar o Facebook dele quando quisesse." O "ocultar" não resolveu o problema: ela continuava a escrever mensagens subliminares para chateá-lo. E continuava a ver o que a namorada de Rui - e amiga dela no Facebook - publicava no mural. Um ano depois da ruptura, os comentários de Rui continuam a estar ocultos na página de Sofia. Ainda acha que há riscos: "Teria a tentação de fazer comentários provocatórios e de meter like nas fotos só para chatear a outra", confessa.
O amor no Facebook é fodido. 
 Depois do Facebook - a rede social criada há sete anos, a 4 de Fevereiro de 2004 - o início e o fim das relações nunca mais foram o mesmo. Antes, bastava apagar o número de telefone da agenda, deixar de frequentar o café do costume ou evitar passar 500 vezes em frente à janela do outro e já estava: this is the end. Agora, além disso tudo, ainda é preciso apagar o rasto virtual do ex. Apagá-lo do Twitter, do MSN, do Facebook. E no Facebook o célebre "desamigar" nem chega: se tiverem amigos em comum, não há maneira de achar que o outro não existe. Como se isso não bastasse, ainda é preciso terminar relações duas vezes: o fim só se oficializa quando se muda o estado civil na rede.
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