02 agosto 2011

OU UM JARDIM DESAVERGONHADO

O MOSTRENGO DA MADEIRA
Um Jardim desgovernado
«A troca de galhardetes entre Alberto João Jardim e Paulo Portas no último fim-de-semana não foi só lamentável.
Foi só mais uma prova de que há uma ilha perdida no Atlântico governada por um homem que, demasiadas vezes, parece (e aparece) de cabeça perdida. Se assim não é, como explicar que um líder político suba a um palco para insultar de forma gratuita parceiros do seu próprio partido, atirando-lhes com acusações de "falsos", "fariseus" ou "bando de vigaristas"?
É verdade que a visita do líder do CDS à pérola do Atlântico não foi pacífica - nem inocente. Entre os sorrisos e os discursos, ficaram os recados. E as acusações: ao descontrolo, ao excessivo endividamento, ao alto despesismo, a tudo o que vai atolando a pequena ilha num oceano de danos financeiros que o continente vai alimentando. Mas Portas sabia muito bem o que estava a fazer. O desgoverno de Jardim dá-lhe todos os argumentos para manter na agenda da coligação um tema fracturante. E, ao distanciar-se do líder regional do PSD, Paulo Portas quer provar que é um pilar, e não uma muleta, da aliança com os sociais-democratas. Mas também já devia saber que qualquer dedo apontado ao líder madeirense é devolvido com a violência de uma bofetada. Como sempre: quem se mete com Jardim, leva.
Já não há surpresas na Madeira. Todos os anos, o discurso populista e a atitude autoritária e arrogante de Jardim repetem-se. E reforçam-se. Uma atitude que até se poderia julgar legítima. Mas não é, sobretudo quando se trata do presidente de um governo regional que continua a reclamar mundos e fundos para a sua ilha, mas não se sujeita às regras e escrutínio de quem financia a sua gestão. Modelou uma máquina governativa à sua imagem e às suas regras, mas não a alimenta sozinho - exige isso de Lisboa, que depois acusa de se querer intrometer e atrapalhar o seu governo. É um líder ingovernável, apenas protegido pela insularidade.
Entre os desfiles de carnaval e o carnaval dos discursos políticos, Jardim tornou-se assim numa espécie de caricatura desgovernada que diz umas coisas que é difícil de levar a sério. O mesmo homem que, dentro de dois meses, volta às eleições para, como ontem reclamou, "ganhar com uma grande maioria". É isso ou não poderá governar, avisa, e assim "vou embora da política". Percebe-se a exigência: um homem habituado a governar sem oposição, sem escrutínio, dificilmente se habitua a novas regras. É o absolutismo - ou a desistência. Muitos madeirenses podem não gostar da ideia de ver o querido líder virar as costas à governação, mas num País governado pela ‘troika', quantos menos exemplos de abuso, excessos, autoritarismo gratuito e violência verbal, melhor. O agora ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, em tempos achou interessante a ideia de dar a independência à Madeira, caso esta a quisesse. É a prova de fogo que Jardim nunca teve. Mas merecia.» [DE]

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