05 agosto 2011

UMA EUROPA DESNECESSÁRIA


Vasco Pulido Valente, Uma “Europa” desnecessária, hoje no Público. Excertos:
«Pela primeira vez desde 1986, toda a gente em Portugal discute a “Europa”. Até o Presidente da República conseguiu extrair da sua empedernida cabeça uma frase ou duas sobre o assunto; e a populaça da televisão e da imprensa não pára de explicar ou, mais precisamente, de lamentar a indiferença da Sra. Merkel à nossa miséria. [...] Portugal parece ignorar a hostilidade crescente da opinião pública europeia à própria ideia de “União”. A Dinamarca renunciou ao acordo de Schengen e fechou as fronteiras. O Parlamento da Eslováquia recusou (por 69 votos contra dois) dar um tostão à Grécia. Os partidos que se opõem à supremacia de Bruxelas ganham popularidade de eleição para eleição. E as sondagens mostram que, na Bélgica (sim, na Bélgica), na Holanda, na Finlândia, na Polónia, em França e, como de costume, em Inglaterra e na República Checa, o eleitorado não acha que a “Europa” seja uma “boa coisa” e não a honra com a sua confiança.

Não admira que os parlamentos nacionais reclamem agora a plena soberania que pouco a pouco foram cedendo a uma
“construção” (como se dizia dantes) transitória e utópica. [...] Para lá da ridícula pretensão de tornar a UE uma terceira potência mundial (ainda por cima desarmada) entre a América e a URSS, a verdade é que sem a força integradora da “guerra fria”, a “Europa” não existiria. Com o colapso da URSS e do império soviético, essa força desapareceu e as velhas divisões do continente voltaram logo à superfície. A famigerada “falta de solidariedade” de que tanto se queixa Portugal não passa do regresso a uma história interrompida. Uma história em que a “Europa” já não é necessária.»

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