POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE
Corpo Habitado
Corpo num horizonte de água,
corpo abertoà lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da lÃngua.
Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor das espigas,
respirar
a doçura escurÃssima das silvas.
.
Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.
.
Corpo para beber até ao fim
-meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação
(Eugénio de Andrade)
Corpo num horizonte de água,
corpo abertoà lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da lÃngua.
Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor das espigas,
respirar
a doçura escurÃssima das silvas.
.
Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.
.
Corpo para beber até ao fim
-meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação
(Eugénio de Andrade)
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