PASSOS COELHO E PSD AOS PAPÉIS
O projecto político do PSD para a economia foi sintetizado pelo gestor Pedro Reis, responsável de Passos Coelho pela política empresarial, em entrevista ao i: "Os salários e os impostos estão 15% acima do que deviam." Assim se prova, pela enésima vez, que o pensamento neoliberal está hoje reduzido a uma fraude intelectual conveniente para um certo poder gestionário nacional, tão mal habituado quanto bem alimentado. Temos, por isso, de voltar aos assuntos de sempre desta coluna.
Num país onde só 36% das empresas declaram ter proveitos para efeitos de IRC, é preciso ter lata para vir dizer que os impostos são altos. Altos para quem? O que se quer é pagar menos impostos sobre o rendimento, num dos países europeus onde o regressivo IVA mais pesa na estrutura de impostos. Enfim, trata-se do egoísmo a falar: quem cai nos últimos escalões do IRS geralmente tem o mau hábito de não usar os serviços públicos. Pagar impostos "altos" torna-se assim uma dispensável maçada.
Mas o pior ainda está no campo das relações laborais. Percebe-se agora a razão das "razões atendíveis", : sabe-se que aumentar ainda mais a precariedade é uma das melhores formas de reduzir salários. No entanto, este diagnóstico sobre o suposto regabofe salarial em Portugal é de uma preguiça confrangedora, num país onde um em cada três trabalhadores ganha 500 euros ou menos por mês.
Num país onde, desde 1995, segundo o economista Ricardo Paes Mamede, os salários reais cresceram, em média, um pouco abaixo da produtividade, o que explica a sua estagnação em percentagem do rendimento nacional, apesar do aumento do emprego durante este período. Isto ainda é pior porque as médias enganam num dos países mais desiguais da Europa, onde os 10% mais bem pagos ganham 5,3 vezes mais do que os 10% menos bem pagos (na competitiva Dinamarca a diferença é de 2,3 vezes).
Dito isto, o PSD tem apenas o mérito de dizer às claras o que o PS, em parte, tem vindo a fazer às escuras: favorecer, através de cortes nos programas de apoio ao emprego e aos desempregados e nas políticas sociais, o desespero entre os mais pobres e vulneráveis, para os obrigar a aceitar eventuais salários ainda mais baixos, num contexto de desemprego de dois dígitos, ajudado pela política económica de austeridade com escala europeia. Alguém no seu perfeito juízo, com a imparcialidade e a capacidade de se colocar no lugar de quem sofre, virtudes económicas cuja importância Adam Smith sublinhou, achará que é assim que se constrói uma economia civilizada que motive e valorize quem trabalha?
no i
Num país onde só 36% das empresas declaram ter proveitos para efeitos de IRC, é preciso ter lata para vir dizer que os impostos são altos. Altos para quem? O que se quer é pagar menos impostos sobre o rendimento, num dos países europeus onde o regressivo IVA mais pesa na estrutura de impostos. Enfim, trata-se do egoísmo a falar: quem cai nos últimos escalões do IRS geralmente tem o mau hábito de não usar os serviços públicos. Pagar impostos "altos" torna-se assim uma dispensável maçada.
Mas o pior ainda está no campo das relações laborais. Percebe-se agora a razão das "razões atendíveis", : sabe-se que aumentar ainda mais a precariedade é uma das melhores formas de reduzir salários. No entanto, este diagnóstico sobre o suposto regabofe salarial em Portugal é de uma preguiça confrangedora, num país onde um em cada três trabalhadores ganha 500 euros ou menos por mês.
Num país onde, desde 1995, segundo o economista Ricardo Paes Mamede, os salários reais cresceram, em média, um pouco abaixo da produtividade, o que explica a sua estagnação em percentagem do rendimento nacional, apesar do aumento do emprego durante este período. Isto ainda é pior porque as médias enganam num dos países mais desiguais da Europa, onde os 10% mais bem pagos ganham 5,3 vezes mais do que os 10% menos bem pagos (na competitiva Dinamarca a diferença é de 2,3 vezes).
Dito isto, o PSD tem apenas o mérito de dizer às claras o que o PS, em parte, tem vindo a fazer às escuras: favorecer, através de cortes nos programas de apoio ao emprego e aos desempregados e nas políticas sociais, o desespero entre os mais pobres e vulneráveis, para os obrigar a aceitar eventuais salários ainda mais baixos, num contexto de desemprego de dois dígitos, ajudado pela política económica de austeridade com escala europeia. Alguém no seu perfeito juízo, com a imparcialidade e a capacidade de se colocar no lugar de quem sofre, virtudes económicas cuja importância Adam Smith sublinhou, achará que é assim que se constrói uma economia civilizada que motive e valorize quem trabalha?
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