09 agosto 2010

SALÁRIOS ACIMA DO QUE DEVIAM - DIZEM ELES


Não há razões atendíveis para a agenda do PSD
Passos Coelho elegeu a revisão da lei fundamental como prioridade na tomada de posse como líder do PSD
O projecto político do PSD para a economia foi sintetizado pelo gestor Pedro Reis, responsável de Passos Coelho pela política empresarial, em entrevista ao i: "Os salários e os impostos estão 15% acima do que deviam." Assim se prova, pela enésima vez, que o pensamento neoliberal está hoje reduzido a uma fraude intelectual conveniente para um certo poder gestionário nacional, tão mal habituado quanto bem alimentado.
Num país onde 36% das empresas declaram ter proveitos para efeitos de IRC, é preciso ter lata para vir dizer que os impostos são altos. Altos para quem? O que se quer é pagar menos impostos sobre o rendimento, num dos países europeus onde o regressivo IVA mais pesa na estrutura de impostos. Enfim, trata-se do egoísmo a falar: quem cai nos últimos escalões do IRS geralmente tem o mau hábito de não usar os serviços públicos. Pagar impostos "altos" torna-se assim uma dispensável maçada.
Mas o pior ainda está no campo das relações laborais. Percebe-se agora a razão das "razões atendíveis", o truque constitucional de Passos Coelho para facilitar despedimentos: sabe-se que aumentar ainda mais a precariedade é uma das melhores formas de reduzir salários. No entanto, este diagnóstico sobre o suposto regabofe salarial em Portugal é de uma preguiça confrangedora, num país onde um em cada três trabalhadores ganha 500 euros ou menos por mês.
Num país onde, desde 1995, segundo o economista Ricardo Paes Mamede, os salários reais cresceram, em média, um pouco abaixo da produtividade, o que explica a sua estagnação em percentagem do rendimento nacional, apesar do aumento do emprego durante este período. Isto ainda é pior porque as médias enganam num dos países mais desiguais da Europa, onde os 10% mais bem pagos ganham 5,3 vezes mais do que os 10% menos bem pagos (na competitiva Dinamarca a diferença é de 2,3 vezes).
Dito isto, o PSD tem apenas o mérito de dizer às claras o que o PS, em parte, tem vindo a fazer às escuras: favorecer, através de cortes nos programas de apoio ao emprego e aos desempregados e nas políticas sociais, o desespero entre os mais pobres e vulneráveis, para os obrigar a aceitar eventuais salários ainda mais baixos, num contexto de desemprego de dois dígitos, ajudado pela política económica de austeridade com escala europeia
. Alguém no seu perfeito juízo, com a imparcialidade e a capacidade de se colocar no lugar de quem sofre, virtudes económicas cuja importância Adam Smith sublinhou, achará que é assim que se constrói uma economia civilizada que motive e valorize quem trabalha?
PASSOS COELHO ANDA NO PARTIDO E NA POLÍTICA NACIONAL COMO O PILATOS NO CREDO... E C0RRE O RISCO DE SER PRIMEIRO MINISTRO

Sem comentários: