16 novembro 2010

ESTÁ NA HORA DE SABER QUEM VALE O QUÊ!...

Por essa Europa discute-se o despesismo, a insustentabilidade do Estado Social, a urgência de cortar na despesa pública e as culpas de cada governo, seja ele de esquerda ou de direita, pela situação de cada país. Como cada um olha para a árvore onde está empoleirado, quase ninguém vê a floresta. Esta miopia geral naturalizou a crise – como se, por ter origem externa, fosse obra dos deuses – e o discurso do sacrifício apresenta-se como inevitável.
Não se trata de desculpar os erros deste governo. Mas sou, por honestidade, obrigado a aceitar que se nos últimos anos tivéssemos sido governados por outro primeiro-ministro não estaríamos muito melhor. Basta olhar para a calamitosa situação de todas as economias periféricas da Europa para perceber que os erros internos não chegam para explicar tudo o que se está a passar. Os mesmos que apontam o dedo ao excesso de Estado fazem por ignorar a hecatombe irlandesa, onde as suas receitas fizeram a escola toda. Se contextos internos diferentes acabaram no mesmo resultado, talvez seja bom procurar em fatores externos a variável determinante.
Este exercício lógico encontra sempre resistências. Porque não beneficia as oposições internas. Porque atira a solução para longe e torna-a improvável. Porque retira ao espaço ainda natural da democracia, que é a nação, a sua própria razão de ser. Estamos presos na contradição que construímos: retirámos ao Estado-nação a sua capacidade de intervenção e regulação na economia mas continuamos a pensar e a agir como se tudo estivesse na mesma. É como se retirássemos o volante ao carro e responsabilizássemos o motorista por cada despiste.
A Europa sofre uma crise de origem económica e política que resulta de duas grandes opções. A primeira: ter deixado que a livre circulação de capitais corrompesse todos os domínios do capitalismo, deixando-o entregue a jogadores improdutivos e à complexidade de produtos financeiros impossíveis de regular, porque impossíveis de compreender. A segunda: criámos uma moeda única sem governo político. Este é o caldo perfeito para quem defende a libertação de recursos públicos para os privados através da destruição do Estado Social. Uma agenda que agora se impõe através da chantagem financeira e sem passar pelo crivo da democracia.
Quando me pedem alternativas a este orçamento vacilo na resposta. Claro que elas existem. A moral: dividir melhor os sacrifícios. Mas isso não salvaria a economia. A racional: apostar no investimento público para relançar a procura interna e o emprego. Mas para isso não há dinheiro no país. A verdadeira resposta – e a mais difícil – é europeia: pôr os especuladores na ordem, retirar das mãos da banca os destinos das contas públicas dos países europeus, entregando ao BCE a função de financiar as dívidas, e mudar a arquitetura institucional do euro.
Imagino que o leitor esteja aborrecido por não lhe dar um cordeiro nacional para o sacrifício. Acontece que esta crise é mesmo enfadonha. Profundamente ideológica e impossível de resumir num mau da fita. Também eu preferia que o alvo fosse fácil de identificar. Ia-se a votos e resolvia-se num instante. Mas a realidade é bem mais trágica. E para sair dela temos de meter na cabeça que santos da casa não farão milagres.
in Arrastão
Resultado do inquérito:
Qual foi o político que mais continuada e decisivamente contribuiu para a definição da política económica do Portugal democrático?

Cavaco Silva (59%, 573 Votes)
Mário Soares (19%, 183 Votes)
Vasco Gonçalves (10%, 97 Votes)
António Guterres (5%, 50 Votes)
Sá Carneiro (4%, 36 Votes)
José Sócrates (3%, 33 Votes)
Durão Barroso (0%, 4 Votes)
Total de votantes: 976

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