O ISLÃO É O PROBLEMA OU A SOLUÇÃO?
A Irmandade Muçulmana tem usado muitas vezes o slogan "A solução é o islão". No Ocidente tira-se quase sempre a conclusão oposta: "O problema é o islão"
CAIRO - Um extraterrestre perspicaz que tivesse vindo parar à Terra há um milénio teria partido do princípio de que as Américas acabariam por ser colonizadas, não por europeus primitivos, mas pela civilização árabe, mais avançada - e que em resultado disso hoje todos nós falaríamos árabe.
No entanto, depois de 1200, mais ou ou menos, o Médio Oriente estagnou economicamente e hoje o que o distingue são os níveis elevados de analfabetismo e os poderes autocráticos. Assim, os recentes movimentos pró-democracia conduzem-nos a uma questão básica: porque demorou tanto? E também a uma outra, politicamente incorrecta: a razão do atraso do Médio Oriente poderá ser o islão?
O sociólogo Max Weber, entre outros, argumentou que o islão é por natureza um mau fundamento para o capitalismo, e alguns apontaram em particular os pruridos do islamismo em relação ao pagamento de juros sobre empréstimos.No entanto, esta ideia não me parece correcta. Já houve outros especialistas que observaram que em muitos sentidos o islão favorece mais o comércio que as outras grandes religiões. O profeta Maomet foi um comerciante bem-sucedido e com uma simpatia pelos ricos que Jesus não teve. Além disso, se pensarmos, por exemplo, no século xii, o Médio Oriente é um centro de cultura e comércio de importância global. Se o islão hoje é um travão da actividade económica, porque não o foi então?
No que diz respeito à hostilidade aos juros e ao sistema de empréstimos, encontramos ensinamentos semelhantes em textos judaicos e cristãos, além de que aquilo que o Alcorão proíbe não são os juros enquanto tais, mas a "riba", uma forma extrema de usura que podia conduzir à escravização dos que não conseguiam pagar as dívidas. Até ao fim do século xviii, houve tantos árabes como cristãos ou judeus a emprestar dinheiro no Médio Oriente. Ainda hoje, mesmo nos países muçulmanos mais conservadores, os empréstimos a juros são correntes.Muitos árabes têm uma explicação alternativa do atraso da região, que é o colonialismo ocidental. Parece-me igualmente falaciosa, além de que a cronologia não bate certo. "Apesar de todos os motivos de descontentamento, o período colonial operou uma transformação fundamental da região, e não a estagnação. Os níveis de alfabetização e de escolarização melhoraram, e não os de analfabetismo, e o mesmo aconteceu com o bem-estar económico", escreve Timur Kuran, historiador da economia da Duke University, num livro meticulosamente documentado, "The Long Divergence: How Islamic Law Held Back the Middle East". Ler mais aqui
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