22 julho 2011

EUROPA É DIRIGIDA POR ANÕES POLÍTICOS



 Anões  governam a Europa


Se fosse fácil de fazer, estava feito. Há 18 meses que a crise empurra a zona euro para o desastre e todas as soluções europeias têm sido, até agora, mínimas e insuficientes. Hoje é um dia diferente: é um dia decisivo para Europa. Ultrapassar a crise está ao alcance de uma decisão política. Apenas isso.
Os líderes dos governos europeus reúnem-se pela quinta vez em 2011 para negociar uma saída da crise sistémica que ataca a moeda única pelo flanco e se aproxima perigosamente do centro. Hoje é o dia em que se vão distinguir os gigantes dos anões políticos: os que têm uma visão estratégica e os que olham apenas para os pés.
A experiência dos resgates mínimos prova que a estratégia europeia atingiu o limite. De resgate em resgate, a crise destrói uma união económica monetária com moeda comum mas sem governo ou instituições desenhados à medida dos problemas. O aviso vem de todos os lados: uma falência soberana na zona euro terá consequências negativas fortíssimas na economia global. O insuspeito Fundo Monetário Internacional declara solenemente que o contágio arrisca atingir os países do núcleo europeu que, justamente, se opõe às soluções de grande alcance. Como a criação de eurobonds - obrigações europeias de dívida garantidas por todos os países. São eles a Alemanha, Holanda e Finlândia.
O argumento é que os países mal comportados ficarão sem incentivo para fazer os ajustes estruturais necessários na sua economia e finanças públicas. Poderão continuar a viver com o dinheiro que não têm, subsidiados pelas poupanças dos países disciplinados.
É uma falácia monumental. A UE tem os instrumentos necessários, vide Grécia, para exigir condicionalidade política (austeridade) em troca de financiamento, aplicando aliás juros que estrangulam Atenas.
Curiosamente, existe um consenso generalizado sobre a resposta à crise. A saber: a UE precisa de uma resposta sistémica, a Grécia necessita de financiamento imediato e a dívida tem de tornar-se sustentável, ou seja, ser reduzida.
O grande problema está nos detalhes. Como fazer o que precisa de ser feito? Do lado económico, a teoria é simples: o PIB tem de crescer, os juros têm de baixar e a dívida tem de ser cortada.
O que está a suceder, neste momento, consiste em financiar países em dificuldade com dinheiro públicos para pagar aos privados. É uma transferência do risco do sector privado para o público. Paralelamente, os devedores cortam ao máximo na despesa e comprimem ainda mais o PIB. À medida que o PIB encolhe, a a insustentabilidade da dívida aumenta. Os privados têm menos incentivos para emprestar dinheiro. E os juros disparam. É um ciclo vicioso.
A austeridade não vai resolver o problema grego nem o europeu e, no meio da instabilidade política, há especuladores a apostar no risco e ganhar toneladas de dinheiro. É um facto. O contágio saiu da zona de quarentena (Grécia, Irlanda e Portugal) e chegou a Espanha e Itália. Ninguém diz que não é preciso austeridade. Apenas se constata o facto de a austeridade, por si só, não resolver o problema.
Daqui decorre que, como Berlim defende, os privados devem pagar parte da factura? Sim. O custo da crise está a sentir-se nos bancos da periferia que, drenados de liquidez, paralisam a possibilidade de crescimento económico. Ou seja, o risco de falência ameaça cada vez mais gente. Inclusivamente os bancos alemães: os gregos, irlandeses e portugueses não conseguem salvar a Alemanha, muito menos a Bela Europa.
É preciso parar esta engrenagem de destruição de riqueza de uma vez por todas. O que implica a reestruturação de dívida na Grécia, aplicar haircuts aos privados, reduzir os juros dos empréstimos externos e a criar eurobonds.
Se nada disto for feito, a crise sairá muito mais cara. A zona euro vai implodir. A economia global vai ressentir-se. E nas páginas da história ficará escrita a trágica ironia de a maior zona económica do mundo ter sido dirigida por anões. do i

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