09 outubro 2008

A "MÁ MOEDA" ATACA COM O P.S.D. EM CRISE

Maria Ferreira Leite, sem conseguir dar destino, acalmar ou disciplinar a variedade de grupos e "grandes" personalidades que periodicamente se dão ao incómodo de se organizarem e reflectirem, de forma mais ou menos ruidosa, com vista ao assalto ao poder, tem agora entre mãos um caso bicudo: a disponibilidade do duplamente falhado Santana Lopes para voltar a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. E com o título de Ex- P.Ministro posto a render, desse modo se colocando mais acima na hierarquia das preferências, pese embora as trapalhadas que marcaram a sua passagem por qualquer um daqueles cargos, às tantas Ferreira Leite não terá margem de manobra para recusar Santana. Até porque poderá apostar numa derrota bastante provável para o neutralizar por algum tempo. Mas... PSL é o ícone PPD/PSD!
Um pouco só, com o seu Guru P.P. mais uma vez na vida com grandes perplexidades ideológicas, por certo mais interessado em seguir o rumo dos neocons para se "ajustar" e se calhar também com receio de afrontar os aguerridos apoiantes de Santana Lopes, parece ter desaparecido de circulação e pouco fará para combater a má moeda... E nem o tio Aníbal intervirá se isso não prejudicar a sua carreira de Presidente da República, com um segundo mandato em mira, como parece evidente estar a tratar com extremo cuidado. Ao contrário do que se poderia pensar, o PSD hoje, para Cavaco Silva, é meramente instrumental e começa, na sua fragilidade, a não ter regaço onde se acolher.
A este propósito e porque mais alguém seria capaz de caracterizar melhor esses reboliços e o estado comatoso do PSD, do que Nuno Brederode Santos, passo a transcrever um excerto do seu artigo publicado no Diário de Notícias de 05Out08, sob o título A VOZEARIA:
"O PSD está em reflexão. É mesmo a única entidade reflexiva que refltecte melhor no alarido litigante e na confusão dispersiva do que no sossego da pedra de Rodim. O seu método não é o do diálogo prévio, num esforço centrípeto para atenuar as divergências, mas sim o de as sugeitar ao efeito centrífugo da gritaria desordenada de todos os que são (e até de todos os que se julgam) caciques de qualquer coisa, pequena que seja. Há muitos modos de assegurar a base agregadora de qualquer associação, mas o PSD não descobre nenhuma. Após a partida de Durão Barroso, experimentou Santana Lopes, Marques Mendes e Meneses. Muitos pensaram - eu também - que só o baronato mais urbano, empresarial e Cavaquista poderia já restabelecer a indispensável coesão. Cruel engano. Na hora da verdade, um deserto de disponibilidades e capacidades obrigou a recorrer a um líder relutante por temperamento, dispersiva nos interesses, omissiva na estratégia e ferida no currículo. A qual, como aqueles seus antecessores, entre tropeçar nos seus próprios erros e andar a fugir às ciladas dos seus rivais internos, não consegue correr os cem metros em linha recta nos quais o eleitorado vislumbra um caminho e entrevê um objectivo. O recente - e, aliás, sereno - episódio da ida a Belém para ouvir o Presidente sobre o Kosovo ilustra muito mais o que Cavaco pode fazer com o PSD do que o respectivo vice-versa. Até o eventual propósito de alardear sentido de Estado morreu na frase de Ferreira Leite à saída: "O Governo fez bem em ter um momento de grande pausa". A intenção era pia, mas o átrio do Palácio Presidencial não é a melhor sede para enigmas semânticos, lógicos e matemáticos. Há vidas falhadas, há Estados falhados. Saberemos nós reconhecer, em tempo útil, um partido falhado?"

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