28 setembro 2009

O POVO PORTUGUÊS TEM AQUILO QUE MERECE



Sócrates tem pela frente dois anos - o prazo de validade deste governo - de extrema dificuldade. Politicamente, tem uma mão cheia de adversários:
-Em Belém, Cavaco ainda não clarificou se tem ou não uma granada para rebentar - embora seja de prever alguma hostilidade.(Cá para nós, uma oportunidade para avaliar o seu patriotismo ou se o Senhor é mesmo intrinsecamente um homem mau e roncoroso.)
-Num Parlamento sem maioria, terá de negociar medida a medida - o que não lhe está no sangue -, a começar pelo Orçamento do Estado, já em Janeiro. E no país real terá de gerir uma situação económica explosiva: o desemprego continuará a aumentar - esperam-se mais cem mil pessoas sem trabalho; o aliado espanhol, principal destino das exportações, permanece nos cuidados intensivos; os juros vão subir; a dívida pública atingiu números pornográficos e o défice está em roda livre. Não bastará dizer que as finanças públicas estão sob controlo, Sócrates terá de o provar. Como? Os apoios extraordinários à economia terão de ser cortados, se não em 2010, pelo menos em 2011. Não há milagres: os cofres públicos estão sujeitos a uma tremenda pressão, empresas e pessoas não aguentam mais impostos. Sócrates terá de conseguir a quadratura do círculo: passar de um ciclo de intervenção do Estado para outro onde a iniciativa privada recupera o pé. Será possível? Com 29 deputados perdidos, quem serão os aliados? Para já, só há adversários. E o Freeport (e a canalha patriota (?!) anda por aí...
Manuela Ferreira Leite está infeliz...
...porque falhou em toda a linha quando as circunstâncias lhe eram favoráveis. Só ganhou sete mil votos face a 2005 e deixa o partido em crise. Fica? Vai-se embora? A sucessão está em aberto. Não vai ser bonito.Santana Lopes deve estar a rir-se. Até Fernando Nogueira foi capaz de ganhar mais votos do que a líder do PSD. A primeira conclusão a tirar é esta: o país chumbou a escolha social-democrata. Manuela tinha quase tudo para ganhar: crise económica evidente, reputação esburacada do adversário, vitória eleitoral nas europeias – só faltava mesmo um líder capaz de dar corpo à mudança. Não era fácil, mas também não era difícil. A verdade é simples: Ferreira Leite foi um erro de casting. Neste sentido, o cavaquismo está moribundo. Sobrevive em Belém, mas também ele está em cheque face às acusações levantadas e, para já, não provadas. A derrota de Manuela não é, contudo, uma derrota individual. Além do cavaquismo, perde o PSD ‘socialite’ que sente algum embaraço na companhia das bases. Perdem Alexandre Relvas e António Borges, símbolos de um partido diletante que encarou as eleições com o ar olímpico e inconsequente. Manuela foi o reflexo desta frágil superioridade moral. Se a campanha foi medíocre, o programa de governo está na génese da catástrofe. O liberalismo foi posto na gaveta: este PSD era, na verdade, um socialismo laranja de conveniência. Manuela não só deixa o PSD estilhaçado como impediu que, no grupo parlamentar, estivesse Passos Coelho, o líder a prazo. Ou será Rui Rio? As hostilidades vão começar.
Paulo Portas está feliz...
...porque tirou a Louçã o brilho do terceiro lugar e cresceu 3,% face a 2005. Num país ainda mais de esquerda, o liberalismo de Portas tornou-se necessário.A fraqueza do PSD foi a força do CDS-PP. Paulo Portas ganhou porque Ferreira Leite perdeu. Além do grande resultado, Portas foi a estrela destas eleições:_o CDS é a terceira força política do país e tirou o pão da boca a Louçã, que já se julgava camisola amarela entre os partidos pequenos. Mais importante: apesar do crescimento da esquerda, é relevante para o país ter um partido não estatizante e liberal com poder de fogo e voz no Parlamento. Mas Portas não ganhou tudo. Feitas as contas, continuará na oposição mais dois anos. O drama de ser líder do CDS é esse mesmo: muleta política é o seu máximo objectivo e, neste sentido, o êxito de Ferreira Leite seria também a chave do seu sucesso. Fica para a próxima. Portas é um pragmático e, até lá, não desprezará acordos pontuais com o PS, se isso favorecer o seu eleitorado e não o implicar demasiado, mas não se espere mais do que isso. A vitória de ontem deve-se a um campanha eleitoral determinada. Os 21 deputados são arma que deve usar com bom-senso.
Francisco Louçã está feliz...
...porque ganhou mais duzentos mil votos face a 2005 e já está longe dos 2,7% de 2002. Este Bloco é outro partido, embora não saiba bem que voz adoptar.O Bloco atingiu ontem a maioridade, apesar de ter ficado ligeiramente aquém das expectativas. Pode continuar a não usar gravata e a ir de autocarro para o trabalho – embora já tenha Plano Poupança reforma e use o carro quando lhe dá jeito. Pode até insistir na nacionalizações, porque ninguém leva a sério e acha que são marcas que ficaram do passado mais radical. Mas agora há uma nova limitação: Francisco Louçã representa a quarta força política do país. O choque com a realidade é inevitável: perante um governo PS minoritário, Louçã será convidado a apoiar o executivo mais vezes do que lhe convinha. Não lhe bastará desafiar o primeiro-ministro no Parlamento: terá de negociar. Negociar não significa ceder, significa mostrar que o Bloco é mais do que um simples partido de protesto. A área social parece a ponte segura para falar com Sócrates sem comprometer a independência. O Bloco não pode ser apenas muleta, mas também já não pode ser só bastão de combate. Ontem isso acabou.
Jerónimo de Sousa está infeliz...
...porque depois de quatro anos de luta nas ruas, protestos e greves, só ficou com as sobras dos votos deixados pelo Bloco. Sabe a pouco e a quase derrota Jerónimo de Sousa fez uma campanha fraca, foi o mais frágil nos debates televisivos e acabou atrás do Bloco de Esquerda. A_CDU é, agora, o grupo parlamentar mais pequeno no Parlamento. O crescimento do Bloco é mais do que uma ameaça, é uma realidade que empurra os comunistas para uma posição de cada vez maior irrelevância política. Claro, o ruído dos sindicatos – designadamente da CGTP – permitirão à CDU ter um impacto social e televisivo muito acima do seu valor eleitoral, mas esse músculo não invalida as dificuldades presentes de Jerónimo de Sousa. O secretário-geral comunista não tem o lugar em perigo, nem sequer ameaçado, mas o desgaste e a erosão parecem evidentes. Apenas a lógica conservadora do partido trava qualquer ímpeto de mudança e maiores solavancos. Jerónimo de Sousa defenderá a realidade formal – teve mais votos do que em 2005 –, mas a realidade substantiva confirma a oportunidade perdida: com o PS em hemorragia, foi Louçã quem encheu o bornal (o que, cá para nós, não constitui uma boa notícia para o futuro desta cloaca mal-cheirosa onde tanto suíno chafurda)
E o Povo Português Só tem aquilo que merece!!!

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