05 janeiro 2010

O PRESIDENTE, OS APOIANTES E APANIGUADOS

Por definição - e não por opção, como alguns julgam - o Presidente da República é sempre o Presidente de todos os portugueses. Quer isto dizer que, independentemente das suas opções políticas, passadas ou presentes, ele deve representar, na acepção mais generosa da palavra, todos os portugueses. Por actos ou palavras.Por isso, mesmo quanto um Presidente, com toda a legitimidade (como poderia ser de outro modo?), faz as suas opções, não pode, nunca, por actos, omissões ou palavras, ser exclusivo. Se há figura inclusiva por excelência no sistema constitucional português, ela é a do Presidente da República.É por isso que os seus discursos, quaisquer discursos, por muito que indiciem opções ou críticas, têm de conter sempre uma certa dose de polissemia congregadora. Ninguém se pode sentir excluído, todos têm de sentir que são, mais que ouvidos, chamados a participar na vida política do país.O discurso de Cavaco Silva neste início de 2010 cumpre essas funções mínimas, apesar de ser um dos mais clarificadores testemunhos da dissonância de Belém com a governação resultante das eleições legislativas de Setembro.Mas, ao cumprir os serviços mínimos que a Constituição lhe impõe, Cavaco deixa - tinha de deixar - caminho aberto a várias interpretações, à polissemia interpretativa própria das democracias.Só não compreende isto quem, no fundo, é um dos maiores praticantes - embora goste de se fazer passar pelo contrário - do chamado pensamento único. São pessoas como estas que transformam o Presidente em líder de facção e lhe retiram a amplitude que a Constituição lhe confere.[João Magalhães in Camara Corporativa]

Sem comentários: