02 fevereiro 2010

REVESTEROL - O ELEXIR DA JUVNTUDE?


O segredo de parecer dez anos mais novo e ter uma vida maior está no vinho tinto? Até aqui nada de novo - o poder antioxidante dos chamados polifenóis está na moda desde os anos 80. Mas as coisas tornam-se diferentes quando um investigador de Harvard apresenta uma das substâncias encontradas na película das uvas pretas ou em trepadeiras japonesas - o resveratrol - como a "molécula do século xxi", capaz de concentrar dezenas de copos de vinho em poucos miligramas, com efeitos surpreendentes. A saga em torno deste produto natural começou em 2003, quando David Sinclair publicou uma carta na revista "Nature" em que dizia ter descoberto moléculas capazes de activar um mecanismo do organismo responsável pelo envelhecimento, a enzima Sirt1. Desde então, as promessas do resveratrol já valeram ao investigador um negócio de 720 milhões de dólares (517 milhões de euros) com a farmacêutica GlaxoSmithKline, além de alimentarem um negócio fora do circuito dos medicamentos em que o antioxidante é vendido como suplemento alimentar. Em resposta ao i, David Sinclair explica a sua descoberta: "Em ratinhos, o resveratrol atrasa os efeitos do envelhecimento e a obesidade. Não sabemos se os efeitos são os mesmos em seres humanos", diz. Ainda assim, o resveratrol concentrado em cápsulas já se vende um pouco por todo o mundo.Em Portugal, a cadeia Celeiro tem embalagens de 60 unidades por 28,95 euros. No site oficial, sugere-se a toma de uma ou duas cápsulas por dia, o que equivale "a cerca de 14 copos de vinho", explica ao i Pedro Lôbo do Vale, director das lojas. No último ano venderam "centenas de embalagens", mas não se pode falar de um aumento da procura. Nos Estados Unidos, depois de correrem rumores de que seria o segredo da jovialidade de Angelina Jolie, de ter entrado na lista de conselhos do famoso Dr. Oz (convidado frequente de Oprah) e ter chegado à janela do programa "60 Minutos" da CBS, houve uma explosão nas vendas. Segundo um dos magnatas da indústria dos produtos naturais, James Betz, da Biotivia, o negócio global já ascende aos 20 milhões de dólares (14 milhões de euros) por ano, com perspectivas de quintuplicar em 2010, para os 100 milhões (71 milhões), diz na última edição da "Wired". O princípio Os chamarizes são promessas clínicas como a prevenção do cancro ou o prolongamento da vida em seres humanos, até hoje sem provas científicas. Em 2003, no primeiro artigo publicado sobre o tema na "Nature", David Sinclair falava de um aumento de 70% da esperança de vida. Desde então os resultados científicos têm-se revelado promissores em modelos animais, mas modestos em seres humanos. Em Novembro de 2006, um estudo renovou o entusiasmo: no comunicado da Faculdade de Medicina de Harvard lia-se que "pela primeira vez, a pequena molécula resveratrol revelou-se capaz de beneficiar a sobrevivência de pequenos mamíferos." Dizia então David Sinclair: "Os ratinhos são evolutivamente muito mais próximos dos seres humanos que qualquer modelo animal manipulado com esta molécula, o que aumenta a esperança de efeitos semelhantes." Tinham descoberto que o resveratrol reduzia 31% o risco de mortalidade em ratinhos com uma dieta rica em calorias, um sinal positivo para quem quer viver mais sem sacrifícios. Quatro anos depois, ainda não há sucesso em seres humanos. Carlos Palmeira é investigador da Universidade de Coimbra e trabalha directamente com o laboratório de David Sinclair para perceber o poder de substâncias como o resveratrol. "A enzima Sirt1 parece responsável pelos efeitos benéficos da restrição calórica em mamíferos." Contudo, "este regime não é saudável", pelo que é necessário encontrar compostos com uma acção semelhante, explica. Segundo Patrício Soares Silva, director do Departamento de Investigação e Desenvolvimento da farmacêutica Bial - que tem feito estudos sobre a substância - "não existem ensaios no homem que justifiquem a importância terapêutica referida ao resveratrol", diz ao i. "Os nossos estudos em voluntários saudáveis mostram que o composto é mal absorvido por via oral e está sujeito a extensa metabolização, ou seja, a quantidade que entra em circulação é talvez insuficiente para promover os efeitos reconhecidos ao resveratrol quando testado em tubo de ensaio." Mesmo comparado com testes noutras espécies animais, a absorção "é muito baixa", adianta o investigador. Sem dados conclusivos, vale a pena começar a tomar resveratrol? David Sinclair é evasivo: "Não faço comentários sobre a forma como as pessoas devem viver a sua vida." Adianta, contudo, que a GlaxoSmithKline - que em 2008 comprou o seu laboratório Sirtris - está a testar novos compostos, sendo "esperados testes clínicos em seres humanos este ano". Nos últimos tempos, a resposta mais assertiva foi um não: "O nosso discurso não pode ser ambíguo - não há mudanças no estilo de vida, procedimentos cirúrgicos, vitaminas, antioxidantes, hormonas ou técnicas de engenharia genética que alterem o processo de envelhecimento", afirmaram, em 2005, 51 investigadores de topo numa revista da especialidade.

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