BERTOLT BRECHT INCÓGNITO NA MADEIRA
Indecentes foram as declarações de Jardim sobre o impacto no turismo da cobertura jornalística desta catástrofe
Lembrei-me de uma passagem de Bertolt Brecht, mas sem metáforas: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem." Desta vez muita gente tem falado da violência das margens que comprimem as ribeiras da Madeira e houve até quem tivesse previsto isto há muito tempo (caso de Cecílio Gomes da Silva, num notável artigo de 19 De facto, uma catástrofe destas nunca é natural nos seus impactos humanos. Estamos num país onde se fala muito em direitos de propriedade e onde se esquece as obrigações da propriedade: cada um constrói onde quer e como quer. Os custos sociais da inexistência de um Estado-estratega são suportados por todos, sobretudo Indecentes foram as declarações de Jardim sobre o impacto no turismo da cobertura jornalística desta catástrofepelos mais pobres, os que são oito num único quarto. A Madeira tem a mais elevada taxa de pobreza do país. Entretanto, o PS decidiu acabar com a encenação das finanças regionais. Questão de decência e de cálculo.
Indecentes foram as declarações de Jardim sobre o impacto no turismo da cobertura jornalística desta catástrofe. As prioridades discursivas de quem lidera revelam os valores ou a falta deles. A liberdade de imprensa, local e nacional, e a difusão de notícias e de reportagens são excelentes nestes contextos: restabelecem contactos, espevitam e escrutinam os poderes públicos e revelam as falhas de um modelo de desenvolvimento conservador e desigual que tem marcado e esgotado o país. Ainda para mais, a postura de Jardim tem efeitos perversos: a ideia de que os poderes públicos têm algo a esconder faz alastrar a desconfiança. Numa catástrofe, a confiança, a coordenação de esforços e a solidariedade dependem da capacidade dos poderes públicos. Já reparou como o discurso do monstro do Estado se torna, neste contexto, uma ficção ainda mais grosseira? Na realidade, agora sabemos que é preciso um radar meteorológico na Madeira e muito maior atenção a outros bens públicos: da reflorestação à mobilização de crédito ou a um planeamento mais intenso. É também necessário combater a perversão de um poder político capturado pelo rentismo imobiliário, bem expresso nos centros comerciais do Funchal. As sociedades que prosperam, no sentido amplo da palavra, são as que sabem viver pacificamente com o que a vida mostra com mais clareza em situações de risco: o peso do Estado não vai, não pode, diminuir. Habituem-se os iludidos. A questão nunca é essa, mas sim que ideias e que interesses controlam os recursos públicos e definem as regras do jogo: as que podem aumentar ou atenuar as violências de todas as margens.
Por João Rodrigues no jornal i Economista e co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas
Indecentes foram as declarações de Jardim sobre o impacto no turismo da cobertura jornalística desta catástrofe. As prioridades discursivas de quem lidera revelam os valores ou a falta deles. A liberdade de imprensa, local e nacional, e a difusão de notícias e de reportagens são excelentes nestes contextos: restabelecem contactos, espevitam e escrutinam os poderes públicos e revelam as falhas de um modelo de desenvolvimento conservador e desigual que tem marcado e esgotado o país. Ainda para mais, a postura de Jardim tem efeitos perversos: a ideia de que os poderes públicos têm algo a esconder faz alastrar a desconfiança. Numa catástrofe, a confiança, a coordenação de esforços e a solidariedade dependem da capacidade dos poderes públicos. Já reparou como o discurso do monstro do Estado se torna, neste contexto, uma ficção ainda mais grosseira? Na realidade, agora sabemos que é preciso um radar meteorológico na Madeira e muito maior atenção a outros bens públicos: da reflorestação à mobilização de crédito ou a um planeamento mais intenso. É também necessário combater a perversão de um poder político capturado pelo rentismo imobiliário, bem expresso nos centros comerciais do Funchal. As sociedades que prosperam, no sentido amplo da palavra, são as que sabem viver pacificamente com o que a vida mostra com mais clareza em situações de risco: o peso do Estado não vai, não pode, diminuir. Habituem-se os iludidos. A questão nunca é essa, mas sim que ideias e que interesses controlam os recursos públicos e definem as regras do jogo: as que podem aumentar ou atenuar as violências de todas as margens.
Sem comentários:
Enviar um comentário