29 outubro 2010

QUEM FICOU COM O MENINO NOS BRAÇOS?

Quem  vai ser responsabilizado por este fracasso? Qual dos dois, PS ou PSD vai sofrer mais do ponto de vista político com este desfecho? Tanto Eduardo Catroga como Teixeira dos Santos fizeram declarações importantes defendendo a sua boa-vontade e a intransigência do lado oposto. Sem sabermos qual a posição final do PSD sobre o Orçamento de Estado é inútil estar já a fazer considerações sobre estas questões. Deixemos pois os partidos, Passos e Sócrates de lado por um momento. Politicamente, para já, como é evidente, temos um primeiro grande derrotado. É Cavaco Silva, enquanto Presidente e enquanto candidato. Mas mais do que isso, enquanto símbolo do consenso político em torno dos objectivos do País.
Cavaco Silva foi incapaz de moderar um entendimento entre os dois maiores partidos,  que ele próprio  propôs e no o qual se implicou directamente. Ao longo dos últimos meses em que Passos Coelho foi acirrando as posições contra o Governo, enquanto  este ia ultrapassando as metas do défice a que originalmente se tinha proposto para 2010. Sabia-se que Cavaco Silva considerava um entendimento entre estes partidos fundamental para o futuro do País. Cavaco disse-o, várias vezes. Perante a indiferença de Passos Coelho a estes apelos, houve vários membros do PSD próximos do Presidente, tal como Manuela Ferreira Leite ou Paulo Rangel, que defenderam publicamente que o PSD devia comportar-se de forma responsável. Portanto, este fracasso significa que a influência do Presidente junto do seu partido é reduzida ou nula. E mesmo junto de um Governo minoritário que não tem apoios junto de outros partidos do seu bloco ideológico. Além disso, Cavaco Silva arriscou dar o pontapé de saída da sua campanha em cima deste acontecimento, passando uma mensagem subtil para o eleitorado de que o Presidente tem um papel interventivo, decisivo e positivo nos destinos do País. Expôs-se,  mostrou-se e averbou um falhanço. Este falhanço terá por isso de ser colocado aos seus pés, tanto como seriam os louros, no caso de um acordo ter sido conseguido.
Mas é evidente que se trata de mais do que de um simples falhanço pessoal, do Presidente e do candidato. A ser assim, de resto, podia não ter muita importância. O que quebrou explicitamente aos olhos dos eleitores foi Cavaco enquanto símbolo de uma certa ideia para Portugal. A de um consenso político em torno da convergência com a União Europeia. Deixou de haver plataforma de entendimento entre PS e (este?) PSD sobre esse assunto, que tem sustentado o regime nos últimos trinta anos!

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