27 novembro 2010

DE BOAS INTENÇÕES...








Esta foi a semana em que os irlandeses explicaram que não eram gregos, que os portugueses explicaram que não eram irlandeses, que os espanhóis proclamaram que não eram portugueses e que os italianos tentaram que ninguém lhes perguntasse se não eram espanhóis!
A semana acabou com a Irlanda a recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira e com a chanceler alemã a declarar o euro em sério risco face à hipótese de novos pedidos do mesmo tipo!
Choca que ninguém tenha lembrado que somos todos europeus e que só por essa via é possível evitar o terrível "efeito dominó" que coloca agora as duas economias ibéricas na primeira linha da mira dos famigerados mercados financeiros!
Com efeito, os casos grego e irlandês reportam-se a dois países que representam cerca de quatro ou cinco por cento da economia da Zona Euro, levando à mobilização de cerca de 200 mil milhões de euros do dito Fundo. Mas, se o efeito de contágio atingir Portugal e, sobretudo, a Espanha, estaremos já a falar de países que, no seu conjunto, se aproximam dos 20 por cento da economia da Zona Euro, e só a Espanha poderia exigir a mobilização da totalidade das verbas europeias alocadas para esse efeito em Maio passado...
A resposta titubeante e descoordenada dos governos europeus, a pressão dos mercados e a contínua erosão da posição dos países mais expostos já deveria neste momento ser mais do que suficiente para que se percebesse que o quadro de reacção definido em Maio se mostra insuficiente e desadequado.
Nesta conjuntura, persistir na questão do mecanismo de reestruturação das dívidas soberanas, em caso de impossibilidade de satisfação por parte de um dos Estados-membros do euro, sem caracterizar os fundamentos desse mecanismo para além do enunciado de um vago princípio de co-responsabilização dos privados detentores dessa dívida, só agrava a situação. Mesmo afirmando que tal co-responsabilização só operaria plenamente no caso de novas dívidas contraídas após 2013, tal não impede que, por antecipação, os investidores se desfaçam da dívida soberana dos países considerados em risco... com os efeitos que estão à vista de todos!DN-António Vitorino

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