VIVA O REI E A RESTAURAÇÃO
Quando oiço a expressão "dia de reflexão" soa-me sempre a título de filme-catástrofe. Como sabemos, nos filmes que têm no título "Dia de" ou "Dia da", antes da destruição há sempre uma calma estranha: não se ouvem os pássaros, o mar está completamente flat, há aparelhos que deixam de funcionar, etc. É semelhante ao que se sente nos dias de reflexão como hoje: não se ouvem os candidatos, não os vemos na TV, e até Pacheco Pereira sai finalmente à rua. Bizarro! Depois lá vem a catástrofe do costume para o país: os resultados eleitorais. É por isso que defendo que também devia haver um dia de reflexão para os candidatos; estes, ao chegarem ao
Tribunal Constitucional para entregar as assinaturas, antes da formalização da candidatura, seriam mandados para casa para reflectir bem no que iam fazer. Talvez não assistíssemos às cenas constrangedoras de Passos Coelho e Paulo Portas a apoiar o marido daquela senhora que recebe apenas 800€ de reforma, de Sócrates em delírio com um caçador que se compara com Humberto Delgado ou de Mário Soares, que, no quentinho de casa, esperto, vê o candidato que lançou gabar-se de receber telefonemas anónimos com ameaças. Eu acho que foi o seu mandatário Nilton: "Eu mato você!" Mas estas eleições também são históricas porque é a primeira vez que há dirigentes partidários que engolem sapos logo à primeira volta; como se sabe, é dos livros, os sapos engolem-se na segunda volta. Percebo agora o slogan de apoio ao marido daquela senhora que recebe apenas 800€ de reforma: "À primeira!" Na verdade, além de mais um sapo, uma segunda volta levaria de certeza ao aumento do vinho e da SportTV. É por tudo isto que estas presidenciais são a melhor forma de encerrar as comemorações dos cem anos da República. Por estes seis candidatos valeu bem a pena ter dado um tiro no D. Carlos. Olhamos para eles e pensamos: "Daqui a cinco anos posso correr com o gajo." Imagine-se Sampaio ainda hoje presidente, ou que o marido daquela senhora que ganha apenas 800€ de reforma ficava em Belém até ao fim da vida? É como ficar fechado para sempre num quarto de hotel com o Carlos Castro ou, para que não me acusem de homofobia, com o Castelo Branco. Mas se um presidente for bom o desejo é que ele continue, e aí há o risco de nos tornarmos monárquicos. Por isso o ideal é que eles sejam todos muito fraquinhos. Parece um paradoxo, mas quanto piores forem os candidatos e os presidentes... melhor se percebe o valor e a utilidade do regime republicano.
VIVA O REI!!
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