20 junho 2011

PORTUGAL SAIR DO EURO?

                                    
João Ferreira do Amaral, economista, diz que o País está a negar a saída do euro tal como adiou o fim da Guerra Colonial...         Portugal deve usar fundo da ‘troika’ como ajuda à saída do euro...
  Portugal parece encurralado no euro. E agora?

Infelizmente, lutar por outro tipo de políticas e ficar no euro começa a ser uma possibilidade bastante remota. Já passámos o ponto em que o conjunto de políticas excepcionais dentro da zona euro – margem para um apoio mais selectivo aos sectores transaccionáveis, exportadores – possam, nesta fase, fazer alguma diferença. Essas políticas já não serão suficientes para inverter o curso dos acontecimentos.
A opção é sair do euro?
Temos dois cenários. Ou a Zona Euro muda muito a sua forma de funcionar ou então mais cedo ou mais tarde teremos de sair.
Qual o cenário é mais credível?
Apostaria no cenário da saída, numa estratégia de saída. Acho que nos devíamos começar a preparar para isso para, quando acontecer, o fazermos de forma ordenada e com um mínimo de estabilidade.
Podemos fazer isso sozinhos?
Precisaremos de apoio. O custo da saída do euro será brutal. Penso que ainda estamos a tempo de negociar uma saída com apoio comunitário.
Não seria uma tragédia sair?
A situação é comparável, com as devidas distâncias, à Guerra Colonial. Durante a guerra, a única coisa que sabíamos é que ela não era sustentável a prazo, que teria de acabar. A certa altura ainda havia opções: descolonizar, negociar ou simplesmente abandonar. Mas insistiu-se em manter a guerra até tudo apodrecer, até a margem de manobra ser mínima.
Apodrecer é uma palavra forte.
Deixámos apodrecer esta situação e já nos estão a impor juros de 12% que só não estamos a pagar porque temos o crédito da troika. Infelizmente, como o plano que nos impõe não irá dar resultado ao nível do crescimento, significa que mal acabe esse financiamento vamos deparar-nos com taxas de juro dessa magnitude. Isto é como na Guerra Colonial: estamos a deixar apodrecer a situação até constatarmos, daqui a uns 4 ou 5 anos, que a única saída possível é péssima: fazer tudo de forma precipitada, sem qualquer capacidade de controlo. Assim, a saída da união monetária será muito dolorosa.

Sem comentários: