29 janeiro 2012

QUEM EXPLORA OU É EXPLORADO







                                                                                       

Um dos aspectos menos explorados nos estudos do Estado Novo respeita à sua duração. Porquê 48 anos de um regime que teve de cair de podre sem ao menos se conseguir defender ou antecipar uma saída democrática que a História e a geografia tornavam evidente? E, afinal, quantos e quais portugueses é que colaboraram com a PIDE? Porque razão as estruturas judiciais e municipais passaram intactas para o pós-25 de Abril sem purga, castigo ou sequer memória? A paz social que assim se obteve, a que se junta uma descolonização que não passou de uma irresponsável debandada,  seja qual for o ponto de vista, permitiram a estabilização do Estado de direito democrático, mas não alteraram as matrizes cívicas que alimentaram a longa noite do conluio entre as famílias que possuíam a banca e a indústria e o messias do provincianismo nacional, de seu nome Salazar.
A estratégia que deu à direita partidária um Presidente da República, um Governo e uma maioria leu bem a tipologia dos tecidos sócio-culturais que nos constituem passados 37 anos da revolução. A aposta na substituição da política pelo moralismo e a hipocrisia sem limites, e as tácticas de perseguição e assassinato de carácter, geraram a violência necessária para afastar a racionalidade e promover a alucinação como normalidade. Isto foi obtido graças às ameaças externas resultantes das crises sucessivas e gigantescas que assolam a economia e finanças internacionais, as quais levam a população para um estado permanente de ansiedade pré-pânico, mas também pelo domínio da comunicação social, onde patrões de imprensa e jornalistas alinharam cooptados ou voluntários nas campanhas delineadas. De tal forma que quando Cavaco, no próprio Parlamento para mostrar quem manda nisto, declara que o Governo PS devia cair o mais rapidamente possível porque estava a impor demasiados sacrifícios (hahaha!! és o maior, bacano…), não havia nada nem ninguém em Portugal que conseguisse impedir esse desfecho.
Para muitos e para um tal Rui Paredes que foi a um Fórum TSF dar o seu contributo, provavelmente passaria no teste do polígrafo. Para ele, o Governo anterior e talvez qualquer Governo socialista do passado ou do futuro, era constituído por pessoas que não se conseguiam controlar por incurável falha moral ou cognitiva, pelo que passavam o tempo a gastar dinheiro mal gasto em inutilidades só para encher o olho, mas que a ninguém aproveitavam para além daqueles que as construíam. E foi assim que ficámos sem dinheiro, conclui com toda a lógica. O Rui não sentiu a necessidade de dar exemplos, embora pudesse disparar com “auto-estradas”, “TGV” e “aeroportos” sem dificuldade. Com um bocadinho de esforço chegaria ao ponto de lembrar as empresas públicas e as parcerias público-privadas. Tanto dinheiro desperdiçado, remataria triunfante agitando uma conta de somar desenhada a lápis na toalha de papel onde tinha acabado de virar um bacalhau com grão.

E eis onde estamos e onde esta direita de pacotilha que  nos quer:   pelintras de um país de miseráveis dizendo-se convictamente vítimas de investimentos faraónicos para a sua educação, saúde, mobilidade, segurança e liberdade. - Esta direita que não sente seguros os seus privilégios e gostaria de fazer regredir aos tempos dos pobres de pé descalço a fazerem vénias ao senhor barrigudo que passava,  indiferente perante a miséria dos que o serviam por uma côdea regateada.

Este governo de deslumbrados,  serventuário do patronato que parece estar (mal) disfarçado a comandar as operações, se não for travado os estragos podem ser grandes.  Não sou comunista, mas a expressão do novo líder da INTERSINDICAL,   sobre quem explora ou é explorado, deve ser devidamente ponderada:
O risco de esquecermos de que lado estamos da barricada é muito  grande...

Sem comentários: