19 abril 2009

ALBERTO MARTINS - O SÍMBOLO DE UMA JUVENTUDE GENEROSA

Há precisamente 40 anos, Alberto Martins, então presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), levantou-se para pedir a palavra em nome dos estudantes na cerimónia de inauguração do Departamento de Matemática. O gesto havia sido previamente combinado nas cúpulas dirigentes, mas o impacto que causou foi imprevisto. Na mesa, Américo Tomás dá a palavra, balbuciante, a Rui Sanches, ministro das Obras Públicas, acabando por encerrar a sessão sem a conceder aos estudantes. À saída, a comitiva é vaiada pela multidão de estudantes que decide fazer a sua própria inauguração após a retirada das autoridades. Havia começado a «crise».
Nessa mesma noite, a PIDE prende Alberto Martins.(Só por ter ousado pedir a palavra!!!...) Durante a madrugada registam-se confrontos com a polícia de choque. Na manhã seguinte, o presidente da DG/AAC é libertado e à tarde realiza-se uma Assembleia Magna na qual se exige a participação dos estudantes no Senado Universitário e o reconhecimento de estruturas representativas estudantis como a Junta de Delegados.
A 22 de Abril, quando a situação parecia tender para a normalidade, alguns dos principais dirigentes académicos são informados da sua suspensão da Universidade enquanto durasse o inquérito aos acontecimentos ocorridos a 17 de Abril. Logo nesse dia, uma Assembleia Magna decreta luto académico, exortando-se os estudantes a transformar as aulas, sempre que possível, em debates sobre a actual situação. No dia 30 de Abril, o ministro da Educação Nacional, José Hermano Saraiva, vai à televisão apontar o dedo à «onda de anarquia que tornou impossível o funcionamento das aulas» (dando a conhecer, inadvertidamente, a agitação que os jornais, a rádio e a televisão estavam impedidos de mostrar por via da implacável censura).
ALBERTO MARTINS, actual líder parlamentar do Partido Socialista, com o seu acto de coragem, enfrentando, olhos nos olhos os ditadores, com a massa estudantil de Coimbra em peso a seu lado, abriu um rombo na longa ditadura que jamais se recompôs e que, cinco anos mais tarde, ruiria com fragor no inesquecível dia 25 de Abril de 1974.
Nunca é de mais glorificar os heróis da revolução, mas é injusto esquecer uma juventude valorosa que, com a sua acção no meio estudantil e no seio dos milicianos (e não só) que faziam a guerra em África, foram criando o caldo de cultura necessário para o eclodir da rebelião que conduziu Portugal à paz e à democracia. Alberto Martins, como todos os heróis verdadeiros, apagou-se, quando a democracia se impôs, sem reclamar honrarias nem procurar fáceis protagonismos, mas que bem merece ser lembrado como o símbolo de uma juventude generosa e esclarecida que foi protagonista da gesta do 25 de Abril 1974, data da qual vamos agora celebrar os seus 35 anos já passados em liberdade.

Sem comentários: