O REPELENTE RANGEL
A explicação simples A densa tessitura de teorias da conspiração que fazem a "actualidade política" nacional, a última de que me dei conta é a da alegada "preferência do PS" por um dos candidatos à liderança do PSD, "preferência" que quereria dizer que esse candidato é visto como "o mais fraco" e portanto aquele que, à frente do PSD, teria menos hipóteses de derrotar o PS. É claro que quem tal proclama quer vender aos militantes do PSD a ideia de que o seu candidato, ele sim, mete "medo eleitoral" ao PS. Esta ideia de embrulhar tudo e mais alguma coisa em alegações de fenomenais planeamentos e urdiduras tem o pequeno óbice de desconsiderar a possibilidade bem mais terrena de que as coisas ocorram porque, simplesmente, ocorrem, mais não tendo que motivações individuais ou, quanto muito, de cultura grupal. Por exemplo para mim, que nunca votei no PSD, Paulo Rangel simboliza, pelo discurso e pose, tudo o que me desagrada pessoal e politicamente. O seu discurso no Parlamento Europeu, que sabemos ter sido o lançamento da candidatura interna, é um dos momentos de maior desonestidade e maior desprezo pelo País de que me lembro nos últimos tempos, a somar como definição de carácter à forma como tenta demarcar-se da liderança de Ferreira Leite, de que foi um dos símbolos e maiores arautos, e ao modo como justificou abandonar o lugar de deputado europeu para o qual foi eleito como cabeça de lista depois de ter invectivado Elisa Ferreira e Ana Gomes por terem, ao candidatar-se a presidências de câmara, posto a hipótese de não cumprirem o mandato em Estrasburgo.Não sei se Passos Coelho, apresentado na tal teoria como "o favorito dos inimigos do PSD" (para os apoiantes de Rangel, Aguiar-Branco não existe), é melhor. Nenhum dos candidatos apresentou até agora algo que se assemelhe a ideias de rumo para o País. Mas Passos Coelho parece menos ultramontano, rígido e negativista que Rangel; parece ter algumas ideias básicas e até ver decentes sobre questões como a da separação de poderes entre a política e a justiça e sobre o que se pode e o que não se deve usar na luta política. Isto nada tem, obviamente, a ver com a capacidade de Passos Coelho ganhar legislativas mas com quem eu, cidadã portuguesa, não quero de todo a governar-me. E Paulo Rangel significa tudo o que não quero para o meu país: paroquialismo, falsidade, moralismo serôdio, tacanhez. E uma palavra que entrou em desuso mas que o define na perfeição: reaccionarismo.Tentar apresentar a profunda repugnância e desprezo que Rangel me suscita - a mim e a tanta gente - como uma espécie de trunfo é apenas mais uma cambalhota da política "da verdade". Aquela que, como toda a gente já percebeu, mais não faz que fabricá-la. E que, como se vê neste seu último delírio, entrou já na zona do desespero.(publicado hoje noDN)
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