08 abril 2010

SENEGAL - ESTÁTUA RENAISSANCE

O Senegal faz hoje 50 anos. No entanto, vou dedicar-me a um acontecimento de ontem e de pormenor (53 metros de altura). A estátua Renaissance Africaine, ontem inaugurada em Dacar, é mais alta do que a Estátua da Liberdade, custou 23 milhões de dólares e o país é pobre, mas não vou por aí. Há sinais mais interessantes. No alto de uma colina da capital, a estátua surpreende pela pose. Um homem de peito feito ao vento, queixo levantado, agarra a mulher e o filho com os seus braços musculosos. O dedo da criança, apontando, culmina a estátua. É evidentemente uma obra estalinista. Poderia ilustrar a família de um kolkhoze soviético - e tudo se explica porque a empresa que forjou o cobre daquela estátua é norte-coreana. Com tanta prática em grandiosas estátuas de Kim Il Sung, a Mansudae faz preços imbatíveis. Aprecie-se a ironia do Senegal - que quer celebrar o renascimento africano e é um dos berços da estatuária da África Ocidental (que tanto influenciou a arte moderna, diz Picasso) - ser obrigado a recorrer, por uma mesquinha questão de dinheiro, a um estilo que lhe é tão exterior... Por outro lado, os imãs (os senegaleses são islâmicos) protestaram por a mulher mostrar um seio e ter uma perna nua. É o lado bom da estátua: ao menos na nudez presta-se homenagem ao autêntico renascimento africano.
Ferreira Fernandes DN

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