05 julho 2011

A GRÉCIA ESTÁ À RASCA...E NÓS?

A bóia europeia de salvação da Grécia pode afinal acelerar a falência do Estado

Dinheiro é dinheiro. Várias semanas de intensas negociações entre políticos e banqueiros europeus para envolver os credores privados da Grécia no segundo plano de resgate financeiro do país foram ontem demolidas por uma das três mais poderosas agências de rating do mundo: a Standard and Poor''s (S&P). A agência avaliou a proposta da Federação Bancária Francesa para os privados participarem no reescalonamento da dívida grega, que vence até 2014, com uma sentença de morte: "Incumprimento selectivo." A agência considera que o modelo proposto para adiar o pagamento de 70% da dívida por 30 anos, em troca de juros de 5,5% a 8%, dependendo do crescimento da economia, representa uma "reestruturação" e "oferece menos valor que o prometido pelos títulos [de dívida grega] originais". "Iremos provavelmente baixar a avaliação de crédito da Grécia para SD [selective default] indicando que existiu uma reestruturação efectiva de alguma - mas não toda - a dívida", revela a nota da S&P. Ora é justamente isso que os governos e o Banco Central Europeu pretendem evitar.
Aquela decisão teria implicações de longo prazo, já que a S&P iria avaliar a dívida grega refinanciada a partir de 2011 com D [default, ou incumprimento]. Ou seja, os títulos gregos deixariam de ser elegíveis como colateral junto do Banco Central Europeu (BCE), que aceitaria as obrigações soberanas como garantia para providenciar liquidez aos bancos.
A Comissão Europeia reagiu de imediato à posição da S&P. Amadeu Altafaj, porta-voz do comissário dos Assuntos Económicos e Monetários, Olli Rehn, disse que os governos "estão a trabalhar no envolvimento do sector privado, portanto ainda não existem decisões tomadas. As conversações irão continuar para determinar a modalidade específica e a escala da participação do sector privado e também o financiamento adicional de fontes oficiais, porque uma está ligada ao outro".
Altafaj refere-se ao segundo plano de resgate da Grécia, que deve ser discutido na reunião do Eurogrupo a 11 de Julho. A conclusão do programa deverá, porém, demorar mais tempo. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, indicou que o acordo não deve ficar concluído antes do Outono. No entanto, fontes da Comissão consideram provável um acordo já em Setembro.
O Estado grego tem de pagar 4 mil milhões de euros entre 15 e 22 de Julho, mais 3 mil milhões de euros em juros. A 20 de Agosto cai uma nova factura, cerca de 6,6 mil milhões de euros.
A Grécia precisa de financiamento externo até 2014 porque não consegue angariar recursos no mercado de capitais a juros suportáveis. O segundo resgate de Atenas prevê, por imposição germânica, a participação dos privados.

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