22 dezembro 2011

INTERESSANTE ESTE PRIMEIRO MINISTRO

OS TEMPOS DA MLA DE CARTÃO
Naquela sua mistura de ingenuidade e impreparação explosiva, Passos Coelho aconselhou os professores desempregados que querem continuar a ser professores a emigrar para os PALOP. Interessante este primeiro-ministro: não disse ter assinado um acordo diplomático, político ou empresarial - o que ele quisesse - para reforçar o ensino de português em Angola, no Brasil ou na China. Numa frase leviana e sem o contexto adequado, indicou a porta de saída do País a milhares de pessoas que, presumo, não lhe merecem muito mais esforço intelectual.É verdade que muitos destes professores não são na realidade professores - são licenciados em História, Jornalismo, Direito, Sociologia, Antropologia, etc., que, não tendo encontrado trabalho na sua área de especialização, a certa altura da vida acabaram por dar aulas para se sustentarem com alguma dignidade. O excesso de oferta desta mão-de-obra (qualificada mas indiferenciada) não é, por isso, de agora - é um problema antigo do País que todos os governos alimentaram -, e talvez tivesse feito sentido o primeiro-ministro explicar, com cuidado, como esta desadequação ao mercado de trabalho reflecte a encruzilhada económica portuguesa e como ele, Passos Coelho, se propõe mudar este terrível estado das coisas.Não foi isso, no entanto, que o primeiro-ministro fez. Como sempre acontece nestes casos, a asneira deu lugar a uma sucessão de disparates paratentar desculpar a inacreditável superficialidade da abordagem. Primeiro, o sempre galvanizante Paulo Rangel lembrou-se de criar uma Agência da Emigração, o que me abstenho sequer de comentar tendo em conta a natureza lunática do empreendimento. Depois, lá veio Miguel Relvas - o limpa-neves do Governo - elogiar o esforço dos quadros portugueses (é sempre oportuno falar ao coração) na reconstrução de Moçambique, como se fosse isso que estivesse em causa.Não é, evidentemente, o que está em causa; mas a intenção do ministro adjunto não era esclarecer ou iniciar um debate que até poderia ser útil - apenas baralhar os factos para enterrar o mais depressa possível a polémica. Voltemos, então, ao essencial. Portugal tem feito um enorme esforço de qualificação. Melhorou muito, mas ainda tem muitíssimo a fazer, e isso passa por reformas na educação, na organização do Estado e até na lei laboral. Não há soluções imediatas para um problema tão vasto; mas ao meu primeiro-ministro eu peço que me indique um caminho político e não que, em desespero, nos faça regressar aos tempos da mala de cartão.




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