AS ALTERAÇÕES AO ESTATUTO
Para quem é açoriano ou vive nos Açores, acha desmesurada a preocupação do Presidente da República com as prerrogativas que o Estatuto conferem às Regiões autónomas e não perde um bocadinho de tempo a pensar num certo amor-próprio dos seus habitantes que cimentaram, ao longo de cerca 500 anos de isolamento, sós, com suas carências e catástrofes, uma forma de viver e de assumir a propriedade das coisas como algo de extrema importância para a sua sobrevivência e afirmação. É natural que esse sentimento extravase para tudo que represente a posse da terra, o seu domínio e da respectiva gestão, revelando sempre resistências quando algo mexe com esse equilíbrio quase, diria, existencial.
Dada a dimensão territorial tudo está mais ou menos perto de todos e a própria política é feita em proximidade, quase olhos nos olhos, não sendo muito fácil aos decisores contrariarem a opinião da maioria sem consequências. Poder-se-á dizer que o escrutínio é feito em tempo real e raramente se abrem polémicas posteriores às decisões. Elas acabam por ser, quase sempre, de muita consensualidade.
Será talvez a lacuna que mais se faz sentir na actuação do actual P.R. é a falta de afectuosidade que consegue transmitir nos seus gestos e parecer não estar atento às, digamos assim, ideossincrasias de um povo que tem e cultiva como poucos o seu portuguesismo e que de algum modo sente e procede como os que vivem para lá do Marão. (Embora estes ainda continuem acantonados nas suas serranias sem projecto de libertação e entregues ao malfadado destino do isolamento ou à morte lenta das suas povoações).
E Julgando nós que o assunto do Estatuto estava resolvido, os recalcamentos de alguém que não gosta de ser contrariado (nos Açores popularmente diz-se que é um "vontadeiro") não o deixam dormir descansado e, aproveitando a produção de um "prefácio" qualquer, cuja primeira parte do dito aborda, com oportunidade, os verdadeiros problemas da Pátria, lá vem outra vez com o choradinho das alterações ao Estuto da Autonomia dos Açores como se de uma tragédia se tratasse. Porque razão, na altura própria, usando de todos os seus poderes constitucionais e persuasivos, não agiu franca e frontalmente para que tudo o que é agora a razão dos ais lamentosos que devem estar a assombrar o Palácio de Belém, não tivessem ficado resolvidos naquela oportunidade? Não acreditamos que este "prolongamento do jogo" tenha sido partidáriamente calculado. Ou antes, não nos passa pela cabeça tal coisa!
Sem comentários:
Enviar um comentário