07 dezembro 2009

ALEGRE, O PIOR OPORTUNISMO - UM PÉ DENTRO OUTRO FORA

ENTREVISTA DE MÁRIO SOARES AO JORNAL I

Na última campanha eleitoral para as legislativas, fez uma espécie de passagem de testemunho a José Sócrates, com aquele "Sócrates é fixe", no comício do Porto. Acha que é o seu herdeiro no PS?
Não. Não tenho a pretensão de ter herdeiros. Quis dizer apenas que Sócrates era o homem que tinha a legitimidade para ganhar as eleições, porque representava o PS. E que, em momento de crise, no meu entender, era preciso para o país que ele ganhasse.
Mas nunca fez isso a nenhum líder anterior do PS...
Não, porque também nunca houve uma possibilidade tão grande de perder as eleições... Quis dar a contribuição máxima que podia dar.
E como é que se sente hoje perante Manuel Alegre?
Fui durante muitos anos amigo dele, tínhamos um contacto quase diário. Eu gosto dele, dou-me bem com o temperamento dele... Mas não aprecio a maneira como se tem comportado como militante do PS. Com um pé dentro e outro fora...Se Manuel Alegre for candidato às Presidenciais, apoia-o?
Só me posso decidir, por um candidato, depois de haver um candidato oficial do Partido Socialista. Eu apoio o candidato do Partido Socialista, porque sou militante do Partido Socialista, desde a sua fundação. Hoje - diga-se - como militante de base, como convém à minha idade.
Escreveu há dias que José Sócrates podia fartar-se e ir-se embora...
Espero que não aconteça. Mas todos deviam ter algum cuidado com isso, incluindo os partidos e o Presidente Cavaco Silva. Se Sócrates decidisse ir-se embora agora, Portugal ficaria numa situação de verdadeira ingovernabilidade.
Acha que se está já perante uma situação de esticar a corda?
Sim, estou muito preocupado com essa hipótese. É um sentimento generalizado em Portugal. A circunstância de a oposição estar a transformar o Parlamento num "governo de Assembleia" contraria as pessoas, sem haver mais do que uma coligação negativa, é muito perigoso. A aliança táctica entre CDS e Bloco de Esquerda é nociva para ambos. Acho que é necessário - e urgente - que os partidos se renovem e apresentem alternativas a médio prazo, segundo os seus valores e ideologias. Os partidos não podem viver tacticamente ao sabor do momento, no dia-a-dia. Quando estamos numa situação económica tão difícil, podem acontecer eventos que não seremos capazes de prever. Que fujam ao controlo dos partidos. É preciso ter cuidado com isso. Há muitos exemplos históricos, nesse sentido. Todos péssimos... in Jornal I

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