22 fevereiro 2010

COM A NOSSA TÃO QUERIDA ILHA


O que aconteceu na Madeira é simples de dizer e doloroso: aconteceu uma tragédia a Portugal. Morreram 32 portugueses. Campos nossos foram arrasados. Pequenas vilas ficaram isoladas. Uma nossa cidade, por sinal a mais bela cidade de Portugal, foi invadida por lama. Janelas debruadas como há séculos os portugueses sabem fazer e espalham pelo mundo fora (Lubango, São Luís do Maranhão, Honolulu...) - e quem mais as espalhou foram os filhos desta cidade, e fizeram delas uma marca de Portugal -, janelas dessas, foram afogadas pelas enxurradas. Nessa nossa cidade de telhados vermelhos, paredes brancas e persianas verdes, ontem era tudo cinzento e castanho, da montanha ao mar. As torres vigias que em tantas casas se erguem para espreitar o mar, de onde chegavam os corsários e por onde partiam os mais cosmopolitas de nós, surpreenderam-se porque, ontem, o que acontecia vinha do lado contrário. Esse nosso pedaço de Portugal é pequeno e aos seus rios chama ribeiras, nome dramaticamente irónico, tal a força das águas revoltas que carregaram automóveis até à baía. Aquele nosso Portugal tem nome próprio, aqueles nossos portugueses têm um nome particular, uma fala particular, aquela nossa bela cidade tem nome - mas hoje só me apetece dizer o essencial: estou a falar de nós.



Por Ferreira Fernandes-DN

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