O BEATO CÉSAR DAS NEVES
César das Neves, o economista beato, mudou muito nas suas crónicas (no DN). Entre as pregações neo-liberais, ele pontuava, como paradigma da máxima degradação social e política, as mudanças nos costumes. Com a crise a fazer ruir as receitas das suas crenças economicistas e financeiras, as grandes causas do desastre financeiro que assolou o mundo, César das Neves desviou-se para centrar as responsabilidades do sismo no sistema capitalista nos seus efeitos sociais para uma hipotética orgia de celerados sexuais que faziam amor sem ser para procriar, admitiam a interrupção voluntária da gravidez e, meu deus, o casamento entre gays. O escândalo da pedofilia dos curas católicos emudeceu a pregação do beato César das Neves. Leiam-no agora e vejam se encontram lá sinais das suas recentes grandes causas. É o encontras. Voltou sim a secura e tecnocrática encomenda das velhas receitas neo-liberais, o mesmo optimismo do capitalismo triunfante no caminho contínuo e perpétuo da perfeição. Mas, quanto a sexo e costumes, ao César das Neves secaram-se-lhe como fontes de inspiração. Não partilha publicamente a vergonha de pertencer a uma Igreja cheia de misérias e crimes, não mostra remorso pelos efeitos perversos do integralismo da moral sexual que recentemente defendia e a todos nos queria impor, não exige a responsabilização para os criminosos e os encobridores vestindo sotainas, não chora pelas vítimas dos abusos, não pede ao Papa que adie a sua visita a Portugal quanto mais reivindicar a sua resignação como acto coerente com o tanto que encobriu. Toda a hipocrisia beata que o carrega disso o inibe, mas deixou de pregar o irredentismo da virtude de sacristia. Como vitória pelas amostras de verdade que se vão revelando, os beatos já estão na defensiva. É pouco, mas é.
por João Tunes
por João Tunes
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