22 dezembro 2010

MAIS DE METADE DAS AMERICANAS VIVE SEM MARIDO

Foram 18 anos de vida em comum que se desfizeram de um dia para o outro. Há pouco mais de três anos, Catarina, de 44 anos, viu-se só com dois filhos. Esta solidão, no entanto, pouco tem a ver com a que era vivida por uma mulher separada ou divorciada há algumas décadas atrás em Portugal. Gestora, bem sucedida, Catarina é independente e, apesar dos momentos difíceis que passou durante a separação, não se sente desorientada nem desprotegida e acredita ser perfeitamente capaz de criar os dois filhos sozinha, só contando com o apoio do pai das crianças nas datas determinadas pelo tribunal. “Não voltei a namorar e não sinto a necessidade de um homem para partilhar a vida comigo e a minha família. Não sinto solidão e luto mesmo para ter o meu espaço próprio”, explica, afirmando que “saiu de circulação”.
Esta falta de desejo de voltar a casar referida por Catarina é também um dos factores que explicam, na América, os números divulgados recentemente pelo The New York Times, de que 51 por cento das mulheres americanas vive actualmente sem um cônjuge. E isso, no entender dos especialistas ouvidos por aquele jornal, deve-se sobretudo ao facto de as mulheres se casarem mais tarde, coabitarem sem casamento, terem uma expectativa de vida maior do que a dos homens e demorarem mais a voltar a casar após um divórcio ou separação, ou nunca chegarem a fazê-lo efectivamente.
Mais do que fenómenos norte-americanos, estes são sinais dos tempos em que vivemos e das sociedades em que estamos inseridos neste lado ocidental do planeta. Mas será que Portugal e a Europa caminham rumo a este cenário em que predominam as mulheres sós? Um pouco por todo o mundo ocidental as mulheres ganharam um terreno que até há bem pouco tempo pertencia apenas aos homens – o da independência. Como nos outros países, as nossas mulheres entraram no mercado de trabalho, por via da emigração (por causa dos homens terem emigrado), pela questão da guerra colonial e também por dificuldades económicas.
Como as restantes mulheres ocidentais, as portuguesas trabalham e fazem-no hoje, na grande maioria das vezes, mais por aspirarem a realizar-se profissionalmente do que apenas pelo dinheiro. E esta independência dá-lhes a oportunidade de escolher os seus destinos: quando e com quem se querem casar, que tipo de casamento querem ter (formal ou não) e até mesmo tomar a iniciativa de um divórcio ou separação.
“Dantes, era muito difícil para uma mulher sobreviver sozinha. O facto de hoje muitas portuguesas trabalharem fora de casa, tornando-se autónomas do ponto de vista económico, também lhes dá maior liberdade de poderem optar por viverem sozinhas. Antigamente dependiam da família e, depois, quando casavam, passavam a depender do marido”, comenta a psicóloga Maria Teresa Ribeiro, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. “As mulheres são muito resistentes e fortes. Provavelmente haverá uma relação com a nossa biologia. Temos dor todos os meses por causa da menstruação e isso dá-nos uma resistência muito grande à dor. A esperança média de vida das mulheres é superior à dos homens. E isso também não é por acaso. As mulheres são igualmente mais resistentes às perdas, sendo mais frequente encontrarmos viúvas que se mantêm vivas do que o contrário. Pode haver explicações de ordem biológica, cultural. Mas a verdade é que isso também pode ajudar a explicar esta sensação que algumas mulheres sós têm quando afirmam que conseguem sobreviver muito bem sozinhas também de um ponto de vista afectivo.”



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