10 outubro 2011

AFINAL EM QUE FICAMOS?


A 23 de Março, coligada com a esquerda radical, a direita chumbou o PEC IV. Cavaco tinha dado o mote no discurso de posse: «Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.» Passos Coelho, Paulo Portas, trinta economistas avençados em full-time pelas televisões e uma caterva de comentadores, juravam que só a teimosia de Sócrates e a incompetência de Teixeira dos Santos poderiam justificar o agravamento fiscal e o aumento dos transportes. A crise era nossa. Nossa e de mais ninguém. Com outro primeiro-ministro e, sobretudo, com outro ministro das Finanças, Camelot ficava ali ao virar da esquina, mesmo que o virar da esquina fosse o Alto da Cova da Moura. Cavaco dissolveu o Parlamento e convocou eleições. Fez bem. PSD e CDS-PP andaram três meses a abanar o osso. O osso era a TSU. Por causa da TSU, Catroga legou à ciência económica momentos deveras eloquentes. O PSD ganhou as eleições.
21 de Junho, Passos Coelho foi empossado como primeiro-ministro. A crise deixou de ser nossa. Era o que faltava! Em Julho, o governo aprovou o Orçamento Rectificativo que permite às Finanças apropriarem-se de metade do subsídio de Natal de quem o recebe (e de importância equivalente deduzida ao rendimento anual de quem não o recebe, como, por exemplo, os assalariados a recibo verde). Os transportes aumentaram. O Serviço Nacional de Saúde levou o primeiro de vários abanões previstos. O ministério da Educação congelou verbas destinadas a mil alunos do ensino secundário. A TSU desapareceu num buraco negro. Tudo, naturalmente, em nome da crise do euro. A crise deixou de ser nossa no dia 5 de Junho.
O governo terá até ao próximo dia 15 (nos termos da Constituição) que entregar no Parlamento o Orçamento de Estado para 2012. Como é sábado, e o Parlamento cumpre semana inglesa, o acto foi adiado para dia 17. Para já, o governo prevê reunir-se em conselho de ministros extraordinário para aprovar o documento
Entretanto, com o ministério da Economia ocupado desde o meio da manhã por membros do Fectrans que exigem reunir-se com Álvaro Santos Pereira, tudo é possível. A Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações deu ao governo um excelente pretexto para novo adiamento? A ver vamos.
Cavaco aproveitou o discurso do 5 de Outubro para dar o novo mote: «Agora, estamos confrontados com uma situação que irá exigir grandes sacrifícios aos portugueses, provavelmente os maiores sacrifícios que esta geração conheceu.» Ficamos à espera.

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