14 outubro 2011

JÁ SE TRABALHA DEMASIADO TEMPO!!!...

João Pinto e Castro
Uma ideia nova com barbas: aumentar os horários de trabalho, como alternativa a baixar os salários, porque isso permitiria aumentar a produtividade e a competitividade das empresas.
Primeira observação: trabalhar mais horas não aumenta a produtividade - que deve medir-se por hora trabalhada – mas reduz, de facto, o custo do trabalho por unidade produzida. Todavia, ao contrário do que se diz, os nossos problemas de competitividade têm pouco a ver com esse factor.
Sabe-se que o Banco de Portugal afirmou durante anos que os custos unitários de trabalho em Portugal cresceram muito mais rapidamente que os da Alemanha e que isso tornou as empresas portuguesas cada vezes menos competitivas.
Todavia, as nossas empresas não competem com as alemãs, mas sim com as chinesas e as do leste europeu. Além disso, o Banco de Portugal reconheceu há dois anos que as tais estatísticas estavam mal calculadas, pelo que, embora continuem a ser amplamente citadas cá dentro e lá fora, não ocorreu qualquer agravamento relativo dos custos unitários do trabalho em Portugal.
Dir-se-á, porém, que o aumento das horas de trabalho não poderá fazer mal à saúde da economia portuguesa.
Há quem tema que ele contribuirá para reduzir a procura no mercado laboral e para aumentar o desemprego, mas esse argumento económico não é correto (ou, pelo menos, carece de rigor).
Todavia, é bem provável que a medida tenha consequências negativas sobre a produtividade global. Vejamos por quê.
A baixa produtividade portuguesa não resulta de as pessoas trabalharem poucas horas, mas de estarem em grande parte ocupadas em atividades de baixo valor acrescentado, tantos industriais como de serviço.
O caminho certo é, pois, deslocar os trabalhadores dos sectores de baixa produtividade para os de alta produtividade. Sucede que o aumento dos horários de trabalho entravará esse processo ao proteger atividades que ocupam principalmente gente que desempenha funções que exigem pouco qualificação (basicamente, foi isso que, com a desenfreada distribuição de subsídios, se fez nos governos de Cavaco Silva).
Concluindo, em si mesmo, o alargamento dos horários de trabalho não tem porque aumentar o desemprego, mas não só não aumenta a produtividade como é provável que entrave o seu crescimento, prejudicando, desse modo, a melhoria de competitividade da economia como um todo.
Em compensação, a decisão cairá bem no goto dos ignorantes que julgam que trabalho produtivo equivale a suor, esquecendo que em Portugal (e, em particular, nas atividades de serviço, onde há menos fiscalização) já se trabalha demasiado tempo.

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