06 dezembro 2011

A CARAMUNHA COMO ESTRATÉGIA SERÁ O QUE NOS ESPERA?


Segundo os planos mais ou menos conhecidos da chanceler alemã, os países que celebrem o novo pacto de estabilidade do euro vão ter de submeter-se a uma disciplina orçamental rigorosa (para nós, maior do que a actual), não autónoma, controlada a nível da Comissão (ou assim parece), e os desvios e incumprimentos serão punidos pelo Tribunal de Justiça Europeu. Estes planos baseiam-se, claro está, no princípio teutónico dos santos e pecadores, totalmente discutível, até por grandes sumidades internacionais, e que, aliás, já começa a perder consistência com a transformação dos primeiros dos santos, os Santos dos Santos, em pecadores como os outros, quiçá mortal e suicidariamente pecadores. Mas esse princípio foi plenamente abraçado e é repetidamente defendido pelo nosso actual primeiro-ministro, que precisa de justificar a falta de qualquer desígnio de desenvolvimento para o país com os “pecados” do seu antecessor que agora haverá que expiar e pagar. A senhora Merkel é tão-só o farol que o ilumina. Um triste, sem qualquer orgulho próprio (é certo que não tem motivos) nem nos cidadãos que governa.
No caso concreto do Portugal pecador (para perceber os nossos pecados, basta ler o post do Valupi intitulado “A culpa é dos faraós”), e no que toca a um possível desenvolvimento económico que nos tire dos infernos, exceptuando as migalhas que algumas empresas alemãs ou francesas benemeritamente aqui quiserem investir (digo benemeritamente, porque, bem mais perto das fronteiras alemãs, existem paraísos de mão-de-obra barata, como a Roménia, a Bulgária, a República Checa, futuramente a Croácia e a Sérvia, etc., bem mais barata do que a nossa e com melhores acessos ao núcleo duro da Europa), como não há crédito, as perspectivas são as de os nossos investimentos apenas poderem decorrer da riqueza gerada a nível interno. Ou seja, em plena recessão e a afundar-nos, nenhuns. Nas nossas circunstâncias, sem crédito para ideias luminosas devido às pobres perspectivas causadas pela recessão, e sem mercados europeus para onde exportar, dada a austeridade generalizada, restar-nos-á o quê?
O espartilho do euro vai condenar-nos à maior e mais longa miséria de que há memória. E em regime de subjugação política. Há uns tempos, falava-se que o abandono do euro por parte de um Estado poderia ter um efeito arrasador nos restantes sócios desta abstrusa empresa. A ser verdade, e se em vez de um (Grécia), forem dois a ameaçar sair (e porque não a Itália?), não estará aí uma poderosa arma de pressão a nosso favor? Iremos ser chantageados na próxima cimeira. Tens alguma na manga, Passos? Ou baixas as orelhas? É que o que nos propõem não acende a mínima luz ao fundo do túnel. Do que li, não há cenoura a acompanhar o chicote. E os nossos interesses não são os da Alemanha. Nem os dos eleitores da senhora Merkel, nos quais, como sabemos, não nos incluímos.
Só pode revoltar, por isso, o que lemos sobre as ideias do ministro das Finanças alemão, citado pelo Jornal de Negócios, e o “elogio” hipócrita e paternalista que dispensa a Portugal e à Irlanda.
Não percebe ou não quer perceber que o problema da zona euro é actualmente o seu fraco crescimento, impossível de inverter com políticas sacrificiais de empobrecimento.
Não será na sexta-feira, mas um dia o verniz estala. daqui

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