07 dezembro 2011

DESAPOSSADOS E MAL PAGOS

 


por FERREIRA FERNANDES
 Desta vez não andaram à volta. Não foi porque "vocês têm dívida a mais", "vocês têm produção a menos", "vocês tem gordura estatal"... Não, desta vez foram direitos ao assunto: elas querem é governar. Elas, são as agências de rating, governos-sombra. Sombra, porque escondidos, mas - ao contrário dos da fórmula tradicional de governo-sombra, que esperam por eleições - governando já. Desta vez foi, pois, a Standard & Poor's (S&P), que a três dias de um Conselho Europeu varreu tudo: anunciou que punha sob vigilância negativa, quer dizer, ameaçou baixar o rating de, não um, nem dois, nem meia dúzia, mas de 15 países da Zona Euro. O Luxemburgo, por exemplo, que não tem dívida, está no lote. E o mais revelador é o timing. Os analistas, supostos estudiosos dos factos acontecidos e dos números apresentados (não é isso, só isso, uma agência de rating?), adiantaram-se e impuseram, antes!, o que fazer: assim, ou está a sopa de letras A-A-A entornada... Quer dizer, as agências de rating fazem o que cabe aos partidos nas campanhas eleitorais, apresentam um programa (mas não se submetem a escrutínio). O programa da S&P foi este: uma maior coordenação financeira da Zona Euro, a emissão de eurobonds e uma intervenção maciça do Banco Central Europeu. Não se trata aqui de saber são medidas sábias, trata-se é da confirmação de que são políticas. A soberania dos Estados acabou (já se suspeitava), e a da Europa não se porta muito melhor.DN

<>
 

Sem comentários: