04 dezembro 2011

Presépios - Do religioso ao atractivo turístico

A representação do nascimento de Cristo há muito que é presença em Igrejas e casas particulares. Nos últimos anos, contudo, esta manifestação da natividade começa a fazer-se fora de portas, como em Alenquer e Monsaraz, atraindo visitantes. O presépio ganha agora uma dimensão turística.

Sara Pelicano | sexta-feira, 2 de Dezembro de 2011

«Cinco horas de chuvas torrenciais mergulharam a Grande Lisboa na maior inundação que a região alguma vez conheceu. Foi a 25 de Novembro de 1967, provocaram mais de 700 mortos e cerca de 1100 desalojados em Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer. A enxurrada matou famílias inteiras, arrastou carros, árvores e animais e destruiu pontes, estradas e casas». Em 2007, o Diário de Noticias recuperava memórias, assinalando os 40 anos volvidos sobre a tragédia.

No ano de 1967, em Alenquer, para ajudar as vítimas das enxurradas gera-se um grande movimento de solidariedade que o município quis assinalar de forma emblemática. Deste modo nasce na colina da vila do distrito de Lisboa um presépio de grandes dimensões. As figuras tinham cinco a seis metros de altura. «Tornou-se um atractivo turístico. Durante anos, quando não havia auto-estradas, as pessoas faziam fila na Estrada Nacional 1 para ver o presépio», conta João Mário, o presidente da Câmara Municipal de Alenquer à data.

O ex-autarca é também pintor e foi ele mesmo, junto com outras pessoas com jeito para as artes, que esboçou e pintou as imagens do presépio, construídas em madeira por um artesão local. «Com o tempo, as imagens estragaram-se e foram feitas outras de chapa. Mas o que importa é que continua a expor-se todos os anos», comenta.
Os anos passam, e o
presépio ultrapassa a dimensão religiosa, consolidando-se como atractivo turístico.
As representações do presépio, nesta quadra natalícia, acontecem um pouco por todo o país. No Alentejo, em Monsaraz, o presépio faz-se à escala da vila medieval. As figuras dos reis Magos, acompanhados pelo povo, enchem ruas e largos, num movimento encenado em direcção ao Castelo. Aí, encontram-se Maria e José.

Emblemático é também o presépio de Estremoz, destacando-se a tradição cerâmica. O arquipélago dos Açores tem também fortes ligações à natividade, existindo em Lagoa, na ilha de São Miguel, o Museu do Presépio Açoriano.

Presépio, uma representação do Património
O Menino Jesus, São José e a Virgem Maria são as figuras principais do presépio e transversais a esta representação da natividade por todo o Mundo. No dicionário de português, presépio significa estábulo, ou seja o local onde se guardam os animais.

Os Evangelhos descrevem que Maria e José, que seguiam viagem até Belém, ter-se-ão abrigado num estábulo. Foi neste local que Maria deu à luz Jesus Cristo há mais de dois mil anos. A data é comemorada por várias religiões, os cristãos vivem o Natal (do latim natalis, ou seja nascimento) desde o século IV, no dia 25 de Dezembro. O dia de comemoração do Natal não é reconhecido como a data efectiva do nascimento de Jesus. Pode ter sido inicialmente escolhida por ser o momento de um festival Romano ou correspondente ao solstício de Inverno. O que é facto é que o presépio ficou desde sempre ligado ao Natal e às comemorações católicas do nascimento de Cristo.
A imagem de Jesus Cristo permanece ausente do presépio até às zero horas do dia 25 de Dezembro. Cumpre-se aqui um ritual do Natal, a colocação do recém-nascido na manjedoura nesta hora.
Junta-se assim aos pais que são acompanhados por outras figuras, onde não vão faltar, a 6 de Janeiro, os Reis Magos. Em Portugal, surgem lado a lado com a representação religiosa, moinhos de vento, pastores, sapateiros, ferreiros entre outros elementos que caracterizam o património e o local onde são construídos.

O presépio terá nascido em 1223, quando São Francisco de Assis festejou o Natal (depois de uma visita à Terra Santa) juntamente com cidadãos de Assis, em Itália, na floresta de Greccio. O franciscano, depois da autorização papal, mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro para o local para tornar a liturgia do Natal mais compreensível e acessível à população.

Contudo, alguns estudiosos remetem esta história para a dimensão da lenda e aponta a existência do primeiro presépio para o ano de 1558, quando o escultor Bastão D. Artiaga construiu uma estrutura, baseada na Natividade, para a irmandade dos livreiros
.
O século XVI foi marcado pela prosperidade dos presépios, sobretudo nas ordens monásticas. O salto para as igrejas dá-se no século seguinte. Ainda no século XVII, a representação do nascimento de Cristo começa a colocar-se em casas particulares.

A grande consolidação do presépio acontece, por fim, no século XVIII. De acordo com José de Almeida Mello, «o século XVIII foi considerado, em todo o mundo, e segundo Diogo de Macedo, o 'século do presépio', não só em Portugal, como também em vários países da Europa, com destaque para a Itália, onde vários portugueses frequentaram escolas de presépios, aprendendo novas formas e novos estilos», escreve no livro «Presépios na Ilha de São Miguel», editado em 2009.

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