13 dezembro 2011

SÓCRATES FALOU E O MUNDO PAROU

SÓCRATES É O ÚNICO POLÍTICO PORTUGUÊS DA ACTUALIDADE
CAPAZ DE TOMAR CONTA DESTA TRAQUITANA
VOLTA DEPRESSA
Sócrates falou sobre a dívida em França e um enorme alarido levantou-se em Portugal. É de crer que por duas razões. Primeiro, por Sócrates ter falado – votado como está ao ostracismo não tem direitos de cidadania; auto-expulsou-se da polis para não ser condenado, logo não deve interferir nos negócios da “cidade”; depois, por ter dito que essa coisa de pagamento da dívida era conversa de crianças.
Portas, do alto da sua inteligência, disse que tinha lido três vezes para tentar perceber a frase. Estava abismado! À esquerda do PS e no PS que repudia Sócrates os comentários foram chocarreiros. E até Freitas, em voraz busca de novo tacho, conhecido especialista em perfídia, traição e oportunismo, achou conveniente abandonar por momentos o seu limitado raio de acção de raciocínio por alíneas e chavetas para tentar fazer humor, concluindo que, agora sim, compreendia por que razão a "bomba lhe estourou nas mãos".
E todavia Sócrates disse o óbvio. Que a dívida era para ser gerida. De facto, ninguém pensa em pagar a dívida no sentido de a liquidar, chame-se o devedor Alemanha, Estados Unidos, Grécia ou Portugal. E mesmo quando por razões de racionalidade económica algum daqueles devedores resolve antecipar o pagamento da dívida, fá-lo como simples acto de gestão da dívida, contraindo outra, a preço mais baixo, para pagar a antiga. Mas a dívida, como ónus, mantém-se e o que tem é de ser gerida.
A dívida representa, portanto, uma despesa, como qualquer outra, inscrita no orçamento, para se fazer ao longo do ano...
Até aqui, tudo certo e tudo óbvio. Então porquê o problema da dívida? O erro de Sócrates é, no fundo, o erro da zona euro. Sócrates, como toda a gente na zona euro – toda a gente salvo aqueles, raríssimos, que desde início apontaram os defeitos da “construção” da moeda única – acreditou que no maior e mais rico espaço económico do mundo nunca iriam faltar os recursos financeiros a preços comportáveis. Porventura até terá pensado, como tantos outros, actuando neste ou noutros espaços económicos igualmente ricos, a começar por Greenspan, que esses recursos financeiros não só nunca faltariam, como seriam cada vez mais baratos. Logo, a dívida continuaria a ser gerível por os recursos que anualmente lhe estão afectos continuarem dentro de uma comportável percentagem do montante global das despesas orçamentais.
Enganou-se. Enganaram-se todos, ou não fosse o homem o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra. E se for economista, três, quatro, as que calhar…O que Sócrates não suspeitava é que esses recursos financeiros que caíam em catadupa sobre os “carentes de capital” iriam, de um momento para o outro, tornar-se escassos, muito escassos, levando essa escassez a uma subida vertiginosa dos seus preços. E quando isso aconteceu – não interessam agora as causas: elas têm sido várias nos últimos quarenta anos, embora nunca como desta última vez – a dívida deixou de ser gerível. E foi o que se viu, melhor, o que se está a ver.daqui

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